Passo do Lontra, Miranda, Brasil

O Brasil Alagado a um Passo da Lontra


Benção Solar
Mergulhão destacado contra o sol poente, na convergência do do rio Vermelho com o rio Miranda.
O grande Pescanal
Pescador tenta a sua sorte a partir de um molhe do Passo do Lontra, uma fazenda-hotel às margens do rio Miranda.
Vista primata
Macaco-bugio espreita os visitantes humanos do cimo de uma árvore.
A todo o vapor
Chalana com pescadores a bordo percorre o rio Miranda.
Uma criatura única
Maria dos Jacarés, junto ao seu estabelecimento e à placa que sinaliza a presença dos jacarés que adoptou.
De olho na objectiva
Caimão camuflado sob a vegetação anfíbia numa lagoa na extensão do rio Miranda.
Em pose
Garça equilibrada e destacada sobre ramos de uma árvore do Pantanal.
De regresso
Lancha percorre um trecho verdejante do rio Miranda, diante do Passo do Lontra.
Convívio fluvial
Família de capivaras à entrada do rio Vermelho.
Uns passos no Passo
Trabalhador da fazenda Passo do Lontra percorre um dos seus muitos passadiços.
Cuidados “maternais”
Maria dos Jacarés exibe o seu à vontade com um dos seus "mininos" répteis.
Tempo de secagem
Mergulhão areja as penas ao sol, à beira do rio Miranda.
Caravana capivara
Grupo de capivaras cruza uma das lagoas da fazena do Passo do Lontra.
Por fim, a lontra
Uma das lontras que avistamos no rio Vermelho e, na sequência, ao longo do rio Miranda.
Puro Pantanal
Tucano examina as suas possibilidades junto à margem do rio Miranda.
O passarão pantaneiro
O grande Tuiuiu a maior ave voadora do Pantanal e, se se tiver em conta o tamanho na vertical em vez da envergadura das asas, também das Américas.
A todo o vapor II
Chalana contorna um meandro arenoso e viçoso do rio Miranda.
Quase lá
O longo passadiço ferroviário do Passo do Lontra que agora conduz do parque de estacionamento e agrave;s imediações dos edifícios principais.
Fim de dia escaldante
Lusco-fusco envolve o coração operacional da fazenda Passo do Lontra.
Estamos no limiar oeste do Mato Grosso do Sul mas mato, por estes lados, é outra coisa. Numa extensão de quase 200.000 km2, o Brasil surge parcialmente submerso, por rios, riachos, lagoas e outras águas dispersas em vastas planícies de aluvião. Nem o calor ofegante da estação seca drena a vida e a biodiversidade de lugares e fazendas pantaneiras como a que nos acolheu às margens do rio Miranda.

A viagem desde Campo Grande para o âmago do Pantanal matogrossense contava já com três horas e meia, incluídas duas paragens em estações de serviço peculiares no meio do nada.

Tínhamos saído da grande cidade ainda cedo, mesmo assim, rendidos ao facto de que não escaparmos à fornaça em que se transformavam aquelas paragens interiores, já quase bolivianas do Brasil, quando o sol disparava para o seu zénite tropical.

Uma Visita Inesperada a Maria dos Jacarés

Faltavam menos de 20km para o destino final. O motorista Sr. Carlos anuncia-nos um inesperado motivo de interesse. “Olhem, a gente tá a aproximar-se aí da Maria dos Jacarés que passa lá na Globo Rural, vocês querem parar?“

A referência soa-nos tão enigmática quanto aliciante. Mesmo derreados e conscientes da meteorologia dantesca no exterior, aceitamos o repto. Carlos detém o carro diante de um negócio-domicílio pespegado à beira da estrada, na iminência de uma ponte sobre um dos incontáveis meandros do rio Corixo Mutum.

Sai por sua conta, em jeito de emissário. Regressa com boas notícias. “Ela não estava a contar mas uma vez que vocês são jornalistas, diz que tá tudo jóia. Vamos lá falar com ela!”.

Pantanal Mato Grosso, Passo do Lontra, Brasil, Maria dos Jacarés, Miranda, Pantanal, Brasil

Maria dos Jacarés, junto ao seu estabelecimento e à placa que sinaliza a presença dos jacarés que adoptou.

Entramos no boteco erguido com umas meras tábuas, telheiro de chapa e envolto de uma rede verde e fina que o mantinha arejado e protegido das melgas e mosquitos por ali tão abundantes.

No interior, um homem cinquentão com feições de índio, dormita sobre uma mesa. Uma senhora de idade condizente surge das traseiras do estabelecimento e apresenta-se. “Boa tarde, Maria dos Jacarés, sejam bem-vindos. Vocês querem conhecer meus mininos, né ?”

Continuamos a ouvi-la nas traseiras ribeirinhas de onde tinha aparecido. Um quase monólogo que, à medida que se desenrolava, se tornava surreal como, aliás, tudo em redor.

Ocorre a Maria, ou melhor a Eurides Fátima de Barros – o seu verdadeiro nome – que teremos eventualmente influência política.

Apelo aos Políticos Brasileiros e o Chamamento dos Jacarés

A esperança de podermos melhorar a sua vida fá-la desabafar. “As coisas não tão nada fáceis por aqui, mesmo aparecendo lá no Globo Rural e nas outras TVs e tudo isso, o senador que prometeu que ia legalizar o meu negócio não fez nada ainda. Agora falam por aí que vão me expulsar.

Já chegou o outro cara lá de baixo que quis ficar com meu sítio à força…vocês me ajudem, tá? Eu só quero continuar por aqui. Tratar dos meus mininos!”

A menção dos infantes repetia-se, persistente. Ainda ninguém nos havia esclarecido a que se referia ao certo a senhora mas o seu título não deixava margem para dúvidas. Chegados à beira plana e relvada do Corixo Mutum, Maria apresenta-nos, por fim, as suas crianças.

“Gordo, vem cá! Bruto, Filipão, Ronaldinho, Dunga, Pelezão! Venham à mamãe!” Dª Maria avança em direcção ao rio. Faz soar um berrante, uma corneta de chifre usada no Brasil pelos vaqueiros. Durante um curto hiato, nada acontece. De repente, um grande jacaré negro emerge do rio.

Caminha vagaroso na nossa direcção. Maria bate duas pedras uma na outra e faz chocalhar um ramo de árvore. Vários jacarés seguem o pioneiro. Instalam-se sobre o relvado, na expectativa, na companhia de um bando de urubus que tinham detectado a acção dos céus  e pressentiam um banquete.

Maria dirige palavras ternurentas a alguns dos seus répteis preferidos. Prenda-os com pedaços de carne. Mais ao Gordo que aos restantes, quase todos com nomes de jogadores ou treinadores de futebol brasileiros.

Então, escolhe um espécime mais destacado, para nos demonstrar o seu à vontade entre a bicharada. Pega-lhe numa pata e levanta-a.

Deita-se sobre ele, tudo acompanhado com sussurros e demonstrações de afecto afins. “Tadinhos dos meus mininos. Teve uma altura que o pessoal vinha aqui e matava eles. Aí eu decidi me instalar e tomar conta. Agora todo o mundo pode gostar e ver eles. Vocês me ajudam também a protege-los, né?”

Pantanal Mato Grosso, Passo do Lontra, Brasil, Maria dos Jacarés

Maria dos Jacarés exibe o seu à vontade com um dos seus “mininos” répteis

O à vontade da anfitriã e a noção de que eram jacarés e não crocodilos do Nilo tinham-nos tornado incautos. Quando demos por ela, estávamos a passear entre os bichos e debruçar-nos para melhor os fotografarmos e filmarmos.

Este texto é a prova de que sobrevivemos para contar.

Rumo ao Passo do Lontra

Maria disse adeus aos jacarés. Nós seguimo-la de volta ao boteco e despedimo-nos com desejos de que os políticos de Campo Grande lhe concedessem a melhor sorte. Enfiamo-nos no carro, cruzamos o Corixo Mutum  e completamos os 17km que nos faltavam.

Abastecidos por torrentes intensas e por alguns dos lençóis freáticos maiores à face do Planeta, vários rios serpenteiam por estes lados, em distintos sentidos, entre ilhas mais ou menos grandes de Terra que, mal se instala a época das chuvas, diminuem a olhos vistos.

Ao longo dos tempos, a dinâmica de seca e inunda da meteorologia tem-se mantido regular e controlável pelas comunidades que teimam em colonizar o imenso Pantanal.

Abundam as fazendas boiadeiras, umas com propriedades a perder de vista, outras comedidas, mais comparáveis a chácaras (pequenas quintas). A espaços, as margens dos rios e das estradas principais acolhem também comunidades na sua origem piscatórias.

Lá se instalam os negócios que servem as fazendas, os criadores de gado, os pescadores e as gentes que com estes levam para diante as suas vidas. A Passo do Lontra a que entretanto chegamos é uma de tantas.

Surgiu como um simples rancho “de pouso” usado pelos boiadeiros que cruzavam a região, a 110km para noroeste da cidade de Miranda e quase a mesma distância de Corumbá, na iminência do limiar leste boliviano.

Quando as maravilhas do Pantanal começaram a correr mundo, as suas gentes empreendedoras adaptaram-se às oportunidades trazidas pelos turistas forasteiros.

Pantanal Mato Grosso, Passo do Lontra, Brasil, Fazenda Passo do Lontra

Lusco-fusco envolve o coração operacional da fazenda Passo do Lontra

Uma Fazenda à beira do rio Miranda

Instalada em 1979 por João e Marilene Venturini, a fazenda Passo do Lontra foi uma das que mais cedo se dedicou a receber e entreter os adeptos brasileiros e estrangeiros da pesca e os ecoturistas que lá começaram a afluir.

É como parte do segundo grupo que damos entrada na sua propriedade, em época alta da pesca, não tanto do ecoturismo. As temperaturas máximas teimavam em passar os 40º. Nem todos os viajantes estavam dispostos a suportar tal provação.

O sr. Carlos imobiliza o carro no parque de estacionamento, de frente para um passadiço de madeira dotado de carris de tal forma longos que mal lhes conseguimos perceber o término.

O passadiço conduz-nos às imediações do rio Miranda. Ramifica para outro paralelo ao rio que nos leva aos edifícios palafíticos principais da fazenda.

Pantanal Mato Grosso, Passo do Lontra, Brasil, passadiço, carris

O longo passadiço ferroviário do Passo do Lontra que agora conduz do parque de estacionamento e agrave;s imediações dos edifícios principais.

Refugiamo-nos da sauna que se fazia sentir na frescura ventilada da sala de refeições.

Logo ao lado das portadas de saloon, um pitoresco posto de pinga embelezado por girassóis, dá as boas-vindas aos recém-chegados. “Enjoy the Pantanal” versa o rótulo da garrafa, entre sete copinhos encaixados numa base de madeira maciça.

Atiramo-nos às várias delícias do buffet pantaneiro. Recuperamos assim forças para o fim de tarde de descoberta que tínhamos pela frente. Satisfeitos e recuperados, bebemos um pouco da cachaça com esperança que a leve anestesia aliviasse o calor insano.

Podíamos – provavelmente devíamos – ter dormido uma sesta.

Em vez, começámos de imediato a investigar o que nos reservavam os dez hectares da Passo do Lontra, sempre pela rede de passadiços elevados que a serviam, alguns suspensos sobre o terreno ensopado e verdejante.

A Prolífica Fauna Pantaneira

Em plena época seca, inúmeros animais procuravam água mais fresca e corrente. Concentravam-se junto às margens do Miranda e em redor da fazenda.

Passamos por caravanas de capivaras em travessia de uma das lagoas locais e por jacarés camuflados na vegetação anfíbia.

Pantanal Mato Grosso, Passo do Lontra, Brasil, capivaras

Grupo de capivaras cruza uma das lagoas da fazena do Passo do Lontra.

Damos com mergulhões que enchem os papos de grandes peixes e com tantas outras aves: carcarás destemidos que não se afastam sequer à nossa passagem.

Passamos por tucanos, araras azuis e vermelhas socializáveis, por tachãs e aracuãs, estas últimas os estridentes e infalíveis despertadores do Pantanal.

Pantanal Mato Grosso, Passo do Lontra, Brasil, , Rio Miranda, Pantanal, Brasil

Garça equilibrada e destacada sobre ramos de uma árvore do Pantanal.

Mesmo esquivos como são, detectamos e encaramos macacos bugios, todos intrigados pela curiosidade fotográfica que, sem aparente explicação, por eles manifestávamos.

Pantanal Mato Grosso, Passo do Lontra, Brasil, Macaco-bugio, fazenda Passo do Lontra, em Miranda, Pantanal, Brasil

Macaco-bugio espreita os visitantes humanos do cimo de uma árvore

Por volta das quatro e meia da tarde, damos por findo este périplo zoológico inicial. Encontramo-nos com Jeferson no embarcadouro da fazenda. Lá inauguramos a primeira de duas fascinantes incursões fluviais: aquela, vespertina. Uma outra, com início sobre a aurora do dia seguinte.

Em ambas, o Miranda e as suas margens exibiram-nos a realidade fluvial, semi-humanizada daquele não tão remoto Pantanal.

Pantanal Mato Grosso, Passo do Lontra, Brasil, Pescador no Rio Miranda, Fazenda Passo do Lontra, Miranda, Pantanal, Brasil

Pescador tenta a sua sorte a partir de um molhe do Passo do Lontra, uma fazenda-hotel às margens do rio Miranda.

Duas ou três grandes chalanas desajeitadas percorriam o rio para cá e para lá. Proporcionavam aos clientes a bordo, uma dinâmica total de pesca que só não rivalizava com o desafogo e o conforto das fazendas.

Pequenas lanchas surgiam imobilizadas de forma quase sagrada em recantos estratégicos do rio.

Partilhavam-nas mais pescadores, invariavelmente determinados a fisgarem o maior número de pintados, pacus, dourados, cacharas, jaús, barbados e, claro está, as piranhas que o Pantanal lhes concedesse.

Pantanal Mato Grosso, Passo do Lontra, Brasil, Chalana no rio Miranda

Chalana com pescadores a bordo percorre o rio Miranda.

Do rio Miranda ao Vermelho e de volta ao Miranda

Serpenteamos no Miranda até ao lugar a que a ele se entregava um afluente, o Vermelho.

Constatamos como o marcava a agonia de uma chácara que se havia instalado na ponta do V criado pela confluência e a que o poder da torrente inflacionada pelas chuvas havia erodido as margens, já quase a provocar o colapso dos edifícios de madeira.

E, no entanto, em plena época seca, a superficialidade das águas ocre do Vermelho barram-nos de o subir mais que umas centenas de metros.

Em jeito de compensação, revelam-nos o ninho hiperbólico ocupado por um casal de tuiuiús, ou jabirus, as enormes cegonhas do Pantanal e mais altas das aves voadoras das Américas, suplantadas apenas, em amplitude de asas, pelos condores andinos.

Pantanal Mato Grosso, Passo do Lontra, Brasil, Tuiuiu,

O grande Tuiuiu a maior ave voadora do Pantanal e, se se tiver em conta o tamanho na vertical em vez da envergadura das asas, também das Américas.

Quando nos aprontamos para deixar o Vermelho, encontramos ainda uma família de lontras em plena missão de caça.

Acompanhamo-las na sua passagem para o Miranda e no longo trajecto periférico, em parte, anfíbio, que lá empreenderam até quase ao Passo do Lontra.

Pantanal Mato Grosso, Passo do Lontra, Brasil, lontra

Uma das lontras que avistamos no rio Vermelho e, na sequência, ao longo do rio Miranda.

Na segunda saída para o Miranda, vimos o sol nascer. A começar, tímido, a vencer um manto de névoa celestial escura, para, logo, exibir num laranja-rosado radiante, a sua grande esfera do contentamento terrestre.

De quando em quando, vimo-lo ser rasgado pelos voos de mais aves atarefadas: garças, mais carcarás, gigantescos tuiuiús, os Tupolevs pantaneiros.

Mergulhão contra pôr-do-sol, Rio Miranda, Pantanal, Brasil

Mergulhão destacado contra o sol poente, na convergência do do rio Vermelho com o rio Miranda.

Esse sol envergonhado não tardou a sair da casca. Às dez da manhã já desalmava uma vez mais o encharcado Pantanal.

A determinada altura das suas vidas, a primeira geração dos Venturinis – João e Marilene – tinha deixado a Passo do Lontra ao filho Sandro para se instalarem noutra sua fazenda, situada a 20km para norte.

Fizesse o calor que fizesse, estava na hora de também para lá nos mudarmos.

 

 

Como Ir:

A TAP voa todos os dias, directamente de Lisboa para várias cidades brasileiras. As mais convenientes para chegar a Campo Grande e ao Passo do Lontra, no Pantanal do Mato Grosso do Sul, São Paulo e Brasília. Destas cidades, poderá completar a viagem com uma companhia aérea brasileira.

Os autores agradecem à TAP e à FUNDTUR Mato Grosso do Sul o apoio concedido na criação desta reportagem.

Manaus, Brasil

Os Saltos e Sobressaltos da ex-Capital Mundial da Borracha

De 1879 a 1912, só a bacia do rio Amazonas gerava o latex de que, de um momento para o outro, o mundo precisou e, do nada, Manaus tornou-se uma das cidades mais avançadas à face da Terra. Mas um explorador inglês levou a árvore para o sudeste asiático e arruinou a produção pioneira. Manaus voltou a provar a sua elasticidade. É a maior cidade da Amazónia e a sétima do Brasil.
Miranda, Brasil

Maria dos Jacarés: o Pantanal abriga criaturas assim

Eurides Fátima de Barros nasceu no interior da região de Miranda. Há 38 anos, instalou-se e a um pequeno negócio à beira da BR262 que atravessa o Pantanal e ganhou afinidade com os jacarés que viviam à sua porta. Desgostosa por, em tempos, as criaturas ali serem abatidas, passou a tomar conta delas. Hoje conhecida por Maria dos Jacarés, deu nome de jogador ou treinador de futebol a cada um dos bichos. Também garante que reconhecem os seus chamamentos.
Curitiba, Brasil

A Vida Elevada de Curitiba

Não é só a altitude de quase 1000 metros a que a cidade se situa. Cosmopolita e multicultural, a capital paranaense tem uma qualidade de vida e rating de desenvolvimento humano que a tornam um caso à parte no Brasil.
Esteros del Iberá, Argentina

O Pantanal das Pampas

No mapa mundo, para sul do famoso pantanal brasileiro, surge uma região alagada pouco conhecida mas quase tão vasta e rica em biodiversidade. A expressão guarani Y berá define-a como “águas brilhantes”. O adjectivo ajusta-se a mais que à sua forte luminância.

Florianópolis, Brasil

O Legado Açoriano do Atlântico Sul

Durante o século XVIII, milhares de ilhéus portugueses perseguiram vidas melhores nos confins meridionais do Brasil. Nas povoações que fundaram, abundam os vestígios de afinidade com as origens.

Lençois da Bahia, Brasil

A Liberdade Pantanosa do Quilombo do Remanso

Escravos foragidos subsistiram séculos em redor de um pantanal da Chapada Diamantina. Hoje, o quilombo do Remanso é um símbolo da sua união e resistência mas também da exclusão a que foram votados.
Ilhabela, Brasil

Ilhabela: Depois do Horror, a Beleza Atlântica

Nocenta por cento de Mata Atlântica preservada, cachoeiras idílicas e praias gentis e selvagens fazem-lhe jus ao nome. Mas, se recuarmos no tempo, também desvendamos a faceta histórica horrífica de Ilhabela.
Ilhabela, Brasil

Em Ilhabela, a Caminho de Bonete

Uma comunidade de caiçaras descendentes de piratas fundou uma povoação num recanto da Ilhabela. Apesar do acesso difícil, Bonete foi descoberta e considerada uma das dez melhores praias do Brasil.
Goiás Velho, Brasil

Um Legado da Febre do Ouro

Dois séculos após o apogeu da prospecção, perdida no tempo e na vastidão do Planalto Central, Goiás estima a sua admirável arquitectura colonial, a riqueza supreendente que ali continua por descobrir.
Brasília, Brasil

Brasília: da Utopia à Capital e Arena Política do Brasil

Desde os tempos do Marquês de Pombal que se falava da transferência da capital para o interior. Hoje, a cidade quimera continua a parecer surreal mas dita as regras do desenvolvimento brasileiro.
Lençois da Bahia, Brasil

Lençois da Bahia: nem os Diamantes São Eternos

No século XIX, Lençóis tornou-se na maior fornecedora mundial de diamantes. Mas o comércio das gemas não durou o que se esperava. Hoje, a arquitectura colonial que herdou é o seu bem mais precioso.
Hidroeléctrica Binacional de Itaipu, Brasil

HidroElétrica Binacional do Itaipu: a Febre do Watt

Em 1974, milhares de brasileiros e paraguaios confluíram para a zona de construção da então maior barragem do Mundo. 30 anos após a conclusão, Itaipu gera 90% da energia paraguaia e 20% da do Brasil.
Morro de São Paulo, Brasil

Um Litoral Divinal da Bahia

Há três décadas, não passava de uma vila piscatória remota e humilde. Até que algumas comunidades pós-hippies revelaram o retiro do Morro ao mundo e o promoveram a uma espécie de santuário balnear.
Ilha do Marajó, Brasil

A Ilha dos Búfalos

Uma embarcação que transportava búfalos da Índia terá naufragado na foz do rio Amazonas. Hoje, a ilha de Marajó que os acolheu tem uma das maiores manadas do mundo e o Brasil já não passa sem estes bovídeos.
Cataratas Iguaçu/Iguazu, Brasil/Argentina

O Troar da Grande Água

Após um longo percurso tropical, o rio Iguaçu dá o mergulho dos mergulhos. Ali, na fronteira entre o Brasil e a Argentina, formam-se as cataratas maiores e mais impressionantes à face da Terra.
Chapada Diamantina, Brasil

Bahia de Gema

Até ao final do séc. XIX, a Chapada Diamantina foi uma terra de prospecção e ambições desmedidas.Agora que os diamantes rareiam os forasteiros anseiam descobrir as suas mesetas e galerias subterrâneas
Goiás Velho, Brasil

Vida e Obra de uma Escritora à Margem

Nascida em Goiás, Ana Lins Bretas passou a maior parte da vida longe da família castradora e da cidade. Regressada às origens, continuou a retratar a mentalidade preconceituosa do interior brasileiro
Pirenópolis, Brasil

Cruzadas à Brasileira

Os exércitos cristãos expulsaram as forças muçulmanas da Península Ibérica no séc. XV mas, em Pirenópolis, estado brasileiro de Goiás, os súbditos sul-americanos de Carlos Magno continuam a triunfar.
Pirenópolis, Brasil

Cavalgada de Fé

Introduzida, em 1819, por padres portugueses, a Festa do Divino Espírito Santo de Pirenópolis agrega uma complexa rede de celebrações religiosas e pagãs. Dura mais de 20 dias, passados, em grande parte, sobre a sela.
Manaus, Brasil

Ao Encontro do Encontro das Águas

O fenómeno não é único mas, em Manaus, reveste-se de uma beleza e solenidade especial. A determinada altura, os rios Negro e Solimões convergem num mesmo leito do Amazonas mas, em vez de logo se misturarem, ambos os caudais prosseguem lado a lado. Enquanto exploramos estas partes da Amazónia, testemunhamos o insólito confronto do Encontro das Águas.
Moradores percorrem o trilho que sulca plantações acima da UP4
Cidade
Gurué, Moçambique, Parte 1

Pelas Terras Moçambicanas do Chá

Os portugueses fundaram Gurué, no século XIX e, a partir de 1930, inundaram de camelia sinensis os sopés dos montes Namuli. Mais tarde, renomearam-na Vila Junqueiro, em honra do seu principal impulsionador. Com a independência de Moçambique e a guerra civil, a povoação regrediu. Continua a destacar-se pela imponência verdejante das suas montanhas e cenários teáceos.
Anfitrião Wezi aponta algo na distância
Praia
Cobué; Nkwichi Lodge, Moçambique

O Moçambique Recôndito das Areias Rangentes

Durante um périplo de baixo a cima do (lago) Malawi, damos connosco na ilha de Likoma, a uma hora de barco do Nkwichi Lodge, o ponto de acolhimento solitário deste litoral interior de Moçambique. Do lado moçambicano, o lago é tratado por Niassa. Seja qual for o seu nome, lá descobrimos alguns dos cenários intocados e mais impressionantes do sudeste africano.
Leões juvenis num braço arenoso do rio Chire
Safari
PN Liwonde, Malawi

A Reanimação Prodigiosa do PN Liwonde

Durante largo tempo, a incúria generalizada e o alastrar da caça furtiva vitimaram esta reserva animal. Em 2015, a African Parks entrou em cena. Em pouco tempo, também beneficiário da água abundante do lago Malombe e do rio Chire, o Parque Nacional Liwonde tornou-se um dos mais vivos e exuberantes do Malawi.
Monte Lamjung Kailas Himal, Nepal, mal de altitude, montanha prevenir tratar, viagem
Annapurna (circuito)
Circuito Annapurna: 2º - Chame a Upper PisangNepal

(I)Eminentes Annapurnas

Despertamos em Chame, ainda abaixo dos 3000m. Lá  avistamos, pela primeira vez, os picos nevados e mais elevados dos Himalaias. De lá partimos para nova caminhada do Circuito Annapurna pelos sopés e encostas da grande cordilheira. Rumo a Upper Pisang.
Competição do Alaskan Lumberjack Show, Ketchikan, Alasca, EUA
Arquitectura & Design
Ketchikan, Alasca

Aqui Começa o Alasca

A realidade passa despercebida a boa parte do mundo, mas existem dois Alascas. Em termos urbanos, o estado é inaugurado no sul do seu oculto cabo de frigideira, uma faixa de terra separada dos restantes E.U.A. pelo litoral oeste do Canadá. Ketchikan, é a mais meridional das cidades alasquenses, a sua Capital da Chuva e a Capital Mundial do Salmão.
Era Susi rebocado por cão, Oulanka, Finlandia
Aventura
PN Oulanka, Finlândia

Um Lobo Pouco Solitário

Jukka “Era-Susi” Nordman criou uma das maiores matilhas de cães de trenó do mundo. Tornou-se numa das personagens mais emblemáticas da Finlândia mas continua fiel ao seu cognome: Wilderness Wolf.
Via Conflituosa
Cerimónias e Festividades
Jerusalém, Israel

Pelas Ruas Beliciosas da Via Dolorosa

Em Jerusalém, enquanto percorrem a Via Dolorosa, os crentes mais sensíveis apercebem-se de como a paz do Senhor é difícil de alcançar nas ruelas mais disputadas à face da Terra.
Bonaire, ilha, Antilhas Holandesas, ABC, Caraíbas, Rincon
Cidades
Rincon, Bonaire

O Recanto Pioneiro das Antilhas Holandesas

Pouco depois da chegada de Colombo às Américas, os castelhanos descobriram uma ilha caribenha a que chamaram Brasil. Receosos da ameaça pirata, esconderam a primeira povoação num vale. Decorrido um século, os holandeses apoderaram-se dessa ilha e rebaptizaram-na de Bonaire. Não apagaram o nome despretensioso da colónia precursora: Rincon.
mercado peixe Tsukiji, toquio, japao
Comida
Tóquio, Japão

O Mercado de Peixe que Perdeu a Frescura

Num ano, cada japonês come mais que o seu peso em peixe e marisco. Desde 1935, que uma parte considerável era processada e vendida no maior mercado piscícola do mundo. Tsukiji foi encerrado em Outubro de 2018, e substituído pelo de Toyosu.
Djerbahood, Erriadh, Djerba, Espelho
Cultura
Erriadh, Djerba, Tunísia

Uma Aldeia Feita Galeria de Arte Fugaz

Em 2014, uma povoação djerbiana milenar acolheu 250 pinturas murais realizadas por 150 artistas de 34 países. As paredes de cal, o sol intenso e os ventos carregados de areia do Saara erodem as obras de arte. A metamorfose de Erriadh em Djerbahood renova-se e continua a deslumbrar.
Desporto
Competições

Homem, uma Espécie Sempre à Prova

Está-nos nos genes. Pelo prazer de participar, por títulos, honra ou dinheiro, as competições dão sentido ao Mundo. Umas são mais excêntricas que outras.
Passageira agasalhada-ferry M:S Viking Tor, Aurlandfjord, Noruega
Em Viagem
Flam a Balestrand, Noruega

Onde as Montanhas Cedem aos Fiordes

A estação final do Flam Railway, marca o término da descida ferroviária vertiginosa das terras altas de Hallingskarvet às planas de Flam. Nesta povoação demasiado pequena para a sua fama, deixamos o comboio e navegamos pelo fiorde de Aurland abaixo rumo à prodigiosa Balestrand.
Étnico
São Nicolau, Cabo Verde

Fotografia dess Nha Terra São Nicolau

A voz da saudosa Cesária Verde cristalizou o sentimento dos cabo-verdianos que se viram forçados a deixar a sua ilha. Quem visita São Nicolau ou, vá lá que seja, admira imagens que a bem ilustrem, percebe porque os seus lhe chamam, para sempre e com orgulho, nha terra.
Ocaso, Avenida dos Baobás, Madagascar
Portfólio Fotográfico Got2Globe

Dias Como Tantos Outros

Península Banks, Akaroa, Canterbury, Nova Zelândia
História
Península de Banks, Nova Zelândia

O Estilhaço de Terra Divinal da Península de Banks

Vista do ar, a mais óbvia protuberância da costa leste da Ilha do Sul parece ter implodido vezes sem conta. Vulcânica mas verdejante e bucólica, a Península de Banks confina na sua geomorfologia de quase roda-dentada a essência da sempre invejável vida neozelandesa.
Montserrat ilha, Plymouth, vulcão Soufriere, caminho para o vulcão
Ilhas
Montserrat, Pequenas Antilhas

A Ilha do Vulcão que se Recusa a Adormecer

Abundam, nas Antilhas, os vulcões denominados Soufrière.  O de Montserrat, voltou a despertar, em 1995, e mantém-se um dos mais activos. À descoberta da ilha, reentramos na área de exclusão e exploramos as áreas ainda intocadas pelas erupções.  
Corrida de Renas , Kings Cup, Inari, Finlândia
Inverno Branco
Inari, Finlândia

A Corrida Mais Louca do Topo do Mundo

Há séculos que os lapões da Finlândia competem a reboque das suas renas. Na final da Kings Cup - Porokuninkuusajot - , confrontam-se a grande velocidade, bem acima do Círculo Polar Ártico e muito abaixo de zero.
Casal de visita a Mikhaylovskoe, povoação em que o escritor Alexander Pushkin tinha casa
Literatura
São Petersburgo e Mikhaylovskoe, Rússia

O Escritor que Sucumbiu ao Próprio Enredo

Alexander Pushkin é louvado por muitos como o maior poeta russo e o fundador da literatura russa moderna. Mas Pushkin também ditou um epílogo quase tragicómico da sua prolífica vida.
Cavalgada em tons de Dourado
Natureza
El Calafate, Argentina

Os Novos Gaúchos da Patagónia

Em redor de El Calafate, em vez dos habituais pastores a cavalo, cruzamo-nos com gaúchos criadores equestres e com outros que exibem para gáudio dos visitantes, a vida tradicional das pampas douradas.
Estátua Mãe-Arménia, Erevan, Arménia
Outono
Erevan, Arménia

Uma Capital entre o Leste e o Ocidente

Herdeira da civilização soviética, alinhada com a grande Rússia, a Arménia deixa-se seduzir pelos modos mais democráticos e sofisticados da Europa Ocidental. Nos últimos tempos, os dois mundos têm colidido nas ruas da sua capital. Da disputa popular e política, Erevan ditará o novo rumo da nação.
Hell's Bend do Fish River Canyon, Namíbia
Parques Naturais
Fish River Canyon, Namíbia

As Entranhas Namibianas de África

Quando nada o faz prever, uma vasta ravina fluvial esventra o extremo meridional da Namíbia. Com 160km de comprimento, 27km de largura e, a espaços, 550 metros de profundidade, o Fish River Canyon é o Grand Canyon de África. E um dos maiores desfiladeiros à face da Terra.
Mtshketa, Cidade Santa da Geórgia, Cáucaso, Catedral de Svetitskhoveli
Património Mundial UNESCO
Mtskheta, Geórgia

A Cidade Santa da Geórgia

Se Tbilissi é a capital contemporânea, Mtskheta foi a cidade que oficializou o Cristianismo no reino da Ibéria predecessor da Geórgia, e uma das que difundiu a religião pelo Cáucaso. Quem a visita, constata como, decorridos quase dois milénios, é o Cristianismo que lá rege a vida.
femea e cria, passos grizzly, parque nacional katmai, alasca
Personagens
PN Katmai, Alasca

Nos Passos do Grizzly Man

Timothy Treadwell conviveu Verões a fio com os ursos de Katmai. Em viagem pelo Alasca, seguimos alguns dos seus trilhos mas, ao contrário do protector tresloucado da espécie, nunca fomos longe demais.
El Nido, Palawan a Ultima Fronteira Filipina
Praias
El Nido, Filipinas

El Nido, Palawan: A Última Fronteira Filipina

Um dos cenários marítimos mais fascinantes do Mundo, a vastidão de ilhéus escarpados de Bacuit esconde recifes de coral garridos, pequenas praias e lagoas idílicas. Para a descobrir, basta uma bangka.
Buda Vairocana, templo Todai ji, Nara, Japão
Religião
Nara, Japão

O Berço Colossal do Budismo Nipónico

Nara deixou, há muito, de ser capital e o seu templo Todai-ji foi despromovido. Mas o Grande Salão mantém-se o maior edifício antigo de madeira do Mundo. E alberga o maior buda vairocana de bronze.
Executivos dormem assento metro, sono, dormir, metro, comboio, Toquio, Japao
Sobre Carris
Tóquio, Japão

Os Hipno-Passageiros de Tóquio

O Japão é servido por milhões de executivos massacrados com ritmos de trabalho infernais e escassas férias. Cada minuto de tréguas a caminho do emprego ou de casa lhes serve para o seu inemuri, dormitar em público.
Mulheres com cabelos longos de Huang Luo, Guangxi, China
Sociedade
Longsheng, China

Huang Luo: a Aldeia Chinesa dos Cabelos mais Longos

Numa região multiétnica coberta de arrozais socalcados, as mulheres de Huang Luo renderam-se a uma mesma obsessão capilar. Deixam crescer os cabelos mais longos do mundo, anos a fio, até um comprimento médio de 170 a 200 cm. Por estranho que pareça, para os manterem belos e lustrosos, usam apenas água e arrôz.
O projeccionista
Vida Quotidiana
Sainte-Luce, Martinica

Um Projeccionista Saudoso

De 1954 a 1983, Gérard Pierre projectou muitos dos filmes famosos que chegavam à Martinica. 30 anos após o fecho da sala em que trabalhava, ainda custava a este nativo nostálgico mudar de bobine.
Bwabwata Parque Nacional, Namíbia, girafas
Vida Selvagem
PN Bwabwata, Namíbia

Um Parque Namibiano que Vale por Três

Consolidada a independência da Namíbia, em 1990, para simplificarem a sua gestão, as autoridades agruparam um trio de parques e reservas da faixa de Caprivi. O PN Bwabwata resultante acolhe uma imensidão deslumbrante de ecossistemas e vida selvagem, às margens dos rios Cubango (Okavango) e Cuando.
Passageiros, voos panorâmico-Alpes do sul, Nova Zelândia
Voos Panorâmicos
Aoraki Monte Cook, Nova Zelândia

A Conquista Aeronáutica dos Alpes do Sul

Em 1955, o piloto Harry Wigley criou um sistema de descolagem e aterragem sobre asfalto ou neve. Desde então, a sua empresa revela, a partir do ar, alguns dos cenários mais grandiosos da Oceania.