PN Gorongosa, Moçambique

O Coração da Vida Selvagem de Moçambique dá Sinais de Vida


Brincadeira ao ocaso
Leões juvenis divertem-se na beira relvada do lago Urema.
Pala-Pala
Palanca negra, como é mais conhecida em Angola, cruza a névoa e uma das picadas do PN Gorongosa.
Pivas a perder de vista
Os pivas, de longe a espécie mais visível na Gorongosa.
Desconfiança
Elefante tenta perceber o que se aproxima para logo reagir com fúria e se retirar.
Caça ao crepúsculo
Jovens leões percorrem uma margem do lago Urema dourado pelo ocaso.
Passagem pelos leões
Jipe do PN Gorongosa regressa a Chitengo após um bom tempo de apreciação de alguns dos leões do parque.
De olho no lago
Águia pesqueira atenta aos movimentos na água de um pequeno lago abaixo.
Arranjo de impalas
Manada de impalas que observam a passagem de visitantes humanos da Gorongosa.
A grande Gorongosa
Encosta da serra da Gorongosa envolta de nevoeiro, uma cena habitual nas manhãs desta região interior de Moçambique.
Pala-pala II
Um pala-pala macho (pouco) dissimulado na vegetação da Gorongosa.
Coisas de abutres
A equipa de ornitólogos de Greg Kaltenecker obtem dados de um abutre de cabeça branca, espécie que estuda e acompanha na Gorongosa.
Debandada geral
Gansos deixam um lago repleto de vegetação anfíbia.
Um novo pôr-do-sol
Impala prescruta o tando da Gorongosa sobre o ocaso.
Cegonhas de Lombo Preto
Um duo dos também chamados tuiuius africanos.
Palmeiras da Gorongosa
Uma das imagens de marca da Gorongosa: as suas palmeiras.
Voo da cegonha de lombo preto
Cegonha de lombo preto em pleno voo.
Convívio na quase-noite
Visitantes sobretudo americanos do PN Gorongosa convivem no exterior de Chitengo.
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Uma das muitas estradas que sulcam o PN Gorongosa.
Facochero
Um javali africano espreita de dentro da sua toca.
Imbabalas
Imbabalas numa estrada estreita do PN Gorongosa.
A Gorongosa abrigava um dos mais exuberantes ecossistemas de África mas, de 1980 a 1992, sucumbiu à Guerra Civil travada entre a FRELIMO e a RENAMO. Greg Carr, o inventor milionário do Voice Mail recebeu a mensagem do embaixador moçambicano na ONU a desafiá-lo a apoiar Moçambique. Para bem do país e da humanidade, Carr comprometeu-se a ressuscitar o parque nacional deslumbrante que o governo colonial português lá criara.

O guia nascido no Zimbabué Test conduz-nos num dos jipes clássicos de game drive.

Após um percurso introdutório entre a vegetação arbórea do PN Gorongosa, chegamos a uma savana desafogada, preenchida por erva seca quase rasa, por áreas de tufos fartos e densos, de meia-altura.

Salpicavam-na palmeiras exóticas, umas anãs, outras, nem por isso, de leque, ilalas ou afins.

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Uma das imagens de marca da Gorongosa: as suas palmeiras.

“Bom, eles andavam por aqui, hoje cedo. Vamos lá ver se ainda andam…”

O encontro não é imediato. À medida que vasculhamos o labirinto dourado soprado pelo vento, Test chega a duvidar do sucesso da busca. E a impacientar-se.

Por pouco tempo.

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Jipe do PN Gorongosa regressa a Chitengo após um bom tempo de apreciação de alguns dos leões do parque.

“Ah pronto! Lá estão eles. Estão a vê-los?” Claro que estávamos.

Dois jovens leões tinham surgido do nada. Arfavam. Davam-nos a ideia de estarem incomodados pelo calor que ainda só era o das dez da manhã. “Comeram com o resto da alcateia durante a madrugada. Agora, tiraram um tempo para eles.” acrescenta Test.

De facto, víamos muitos mais herbívoros em redor: impalas, baualas, pivas e outros.

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Imbabalas numa estrada estreita do PN Gorongosa.

O que interessava aos leões era, no entanto, a sombra mais ventilada das redondezas.

De tal maneira a perseguiram para cá e para lá, apareceram e desapareceram no meio do mato tufoso que pareciam connosco jogar às escondidas.

Foi o nosso primeiro avistamento de leões na Gorongosa.

Vários se seguiriam. Tão fáceis como esse.

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Leões juvenis divertem-se na beira relvada do lago Urema.

Os Incríveis Rios e Ecossistemas

A sua busca, permitiu-nos, em simultâneo, começar a apreciar a beleza singular da Gorongosa.

Forma-a um retalho de ecossistemas disseminado do sopé da serra homónima até ao Planalto de Cheringoma, percorridos por uma série de rios que há séculos irrigam o lago Urema e sustentam a incrível biodiversidade destas paragens:

o Vunduzi que nasce nas vertentes da Serra da Gorongosa, o Nhandugue, o homónimo Urema, o Muaredzi.

E outros menores que, por norma, se somem durante a época seca.

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Um duo dos também chamados tuiuius africanos.

Test conduz-nos em direcção à orla do Urema, o lago. Em Junho, com as chuvas já há uns meses passadas, esta orla é um tando vasto forrado de erva bem verde e suculenta.

Surge pejado de herbívoros, em particular de  incontáveis pivas, numa abundância que não tínhamos encontrado em nenhuma outra parte do mundo.

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Os pivas, de longe a espécie mais visível na Gorongosa.

Constatamos pela primeira vez, o quanto a fauna da Gorongosa recuperara dos seus anos mais negros.

À conversa com Vasco Galante, o Director de comunicação do parque, este mostra-nos um vídeo de um filme promocional, de 1961, realizado por Miguel Spiguel e narrado pelo inconfundível Fernando Pessa.

Conta-nos Vasco que, na sua juventude abrantina, aquele mesmo filme, com o imaginário de selva e de safari, o tinha deslumbrado e suscitado o sonho de conhecer o lugar.

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Funcionário de Chitengo encarregue das entradas e saídas do campo.

De Reserva de Caça a Parque Nacional Colonial Exuberante

Por essa altura, a Gorongosa resplandecia. De 1920 a 1959, fora uma reserva de caça que a Companhia de Moçambique determinou com 1000 km2.

Em 1940, tinha-se tornado famosa.

De forma incauta, as autoridades dotaram-na de um campo turístico na planície aluvial junto ao rio Mussicadzi.

Como muitos receavam, em 1942, inundações danificaram as infraestruturas. Vasco mostra-nos outro filme. Nele vemos como as alcateias lideradas por leões com enormes jubas cor de fuligem se apoderaram dos edifícios.

Como subiam as escadas em caracol para chegarem ao terraço onde repousavam e perscrutavam os seus domínios e passavam os olhos pelos inúmeros espécimes que por lá deambulavam: pivas (3500), gnus (5500), impalas (2000), zebras (3000), búfalos (14500), elefantes (2200), hipopótamos (3500), centenas de elandes, pala-palas e gondongas, todas as espécies inventariadas, mais tarde, pelo ecologista sul-africano Kenneth Tinley.

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Pequena manada de impalas que observam a passagem de visitantes humanos da Gorongosa.

Em 1951, uma nova administração do governo colonial teve em conta que a Gorongosa era já visitada todos os anos por mais de 6000 turistas.

Ditou a construção de infraestruturas de acomodação, de um restaurante e um bar, tudo no Chitengo.

Quatro anos mais tarde, a Gorongosa foi decretada parque nacional. O Chitengo recebeu novas estradas e outras infraestruturas.

No final dos anos 60, contava também com uma estação de correios, uma estação de combustível, uma clínica para urgências, uma loja de artesanato, duas piscinas e até um clube nocturno.

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Trabalhadores do PN Gorongosa em frente a um dos edifícios de Chitengo.

Os Anos Inofensivos da Guerra da Independência

De 1964 a 1975, a guerra pela independência gerada pela frente de libertação de Moçambique (FRELIMO) quase não afectou o parque.

Em 1972, uma Companhia Portuguesa apoiada por vários membros de uma tal de Organização Provincial de Voluntários estacionou na zona para o proteger.

Em 1976, nova contagem confirmava vários milhares de animais e bem mais que os 200 leões antes verificados, o maior número até à data.

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Jovens leões percorrem uma margem do lago Urema dourado pelo ocaso.

O seu ecossistema provava-se saudável como nunca.

Até que, financiada e armada pela África do Sul e pelo governo “branco” da Rodésia do Sul, entrou em cena a Resistência Nacional de Moçambique (RENAMO), em oposição à FRELIMO.

1981-1992: a Destruição Traumática do Parque

Chegámos a 1981. A Guerra Civil tomou conta do país e, para a Gorongosa, confirmou-se o pior cenário possível: que a RENAMO não tardaria a usá-la como seu quartel-general.

Nesse mesmo ano, a RENAMO atacou Chitengo. Raptou vários dos seus trabalhadores e dois cientistas estrangeiros.

Em 1983, o parque foi encerrado. De então em diante, a violência e destruição aumentaram. Batalhas terrestres e bombardeamentos aéreos destruíram os edifícios.

Soldados de ambos os lados do conflito abateram centenas de elefantes para venderem o marfim e assim obterem novas armas.

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Leoa repousa aquecida pelo sol suave do fim da tarde.

Soldados famintos mataram milhares de distintos herbívoros e os próprios leões – hoje protegidos e monitorados com coleiras de localização – e outros predadores foram dizimados por pura diversão ou morreram de fome por falta das suas presas.

A guerra civil terminou em 1992 mas a fauna do parque continuou a ser vítima da caça furtiva. No final das atrocidades, quase todos os animais de grande porte tinham sido reduzidos em 90% ou mais.

Como é óbvio, em 2017, ainda havia muito a fazer.

As infraestruturas e a fauna recuperaram e de que maneira.

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Babuínos passam em frente a uma manada curiosa de pivas.

De Novo à Descoberta do PN Gorongosa

Na manhã seguinte, saímos bem cedo, em novo modo de game drive conduzido por Moutinho, um jovem guia nativo. Um nevoeiro denso envolve a Gorongosa.

Pelo caminho, surgem, a espaços, silhuetas fantasmagóricas de animais na estrada de terra exígua que a vegetação tropical se esforçava por invadir: imbabalas, inhacosos e pala-palas – o nome moçambicano das palancas-negras emblemáticas de Angola.

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Palanca negra, como é mais conhecida em Angola, cruza a névoa e uma das picadas do PN Gorongosa.

Espreitamos lagos legados pelos meses das chuvas (Janeiro a Abril), repletos de aves:

gansos do Egipto, íbis, marabus, cegonhas de bico-amarelo e de lombro-preto, pelicanos e tantos outros.

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Apesar da distância para o oceano
Índico, os pelicanos são muitos no PN Gorongosa.

Quanto mais do parque percorríamos, mais nos encantávamos com os seus cinquenta e tal ecossistemas:

o tando sem fim, a floresta de acácias-amarelas e as savanas salpicadas de palmeiras exóticas, as margens ervadas e pantanosas do Urema, o próprio lago partilhado por hipopótamos e crocodilos.

A floresta tropical das encostas da serra e tantos outros ambientes.

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Encosta da serra da Gorongosa envolta de nevoeiro, uma cena habitual nas manhãs desta região interior de Moçambique.

Em Busca dos Elefantes Esquivos do Parque

Após intensa procura, lá encontrámos um macho elefante solitário, mais tarde, outro. Não é por acaso que a memória destes paquidermes tem a fama que tem.

Na Gorongosa, mal detectam os jipes, os elefantes recordam os traumas passados durante e após a Guerra Civil.

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Elefante tenta perceber o que se aproxima para logo reagir com fúria e se retirar.

Reagem com imediata suspeição e chegam a perseguir os veículos. Ao contrário dos leões – que voltamos a encontrar com facilidade à beira do Urema – são esquivos.

Mas, com o tempo, tudo sara.

Assim considerou o governo moçambicano que, em 1994, com o apoio do Banco Africano para o Desenvolvimento e a União Internacional para a Conservação da Natureza tratou de recuperar infraestruturas, de abrir picadas e estradas.

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Uma das muitas estradas que sulcam o PN Gorongosa.

De desminar a região, e combater a caça furtiva com apoio de oitenta funcionários recém-contratados, alguns antigos trabalhadores do parque e até ex-combatentes.

Greg Carr: da Mensagem do Embaixador Moçambicano na ONU à Acção

Após o virar do século, Greg Carr, o norte-americano que inventou o Voice-mail e com ele prosperou, entrou na equação.

O multimilionário do Idaho, acolheu uma sugestão do embaixador moçambicano na ONU durante um encontro promovido pela família Kennedy de apoiar a recuperação de Moçambique da guerra.

Pouco depois, visitou a Gorongosa. Ficou rendido e convencido de que o parque poderia funcionar como um forte móbil turístico de desenvolvimento do centro de Moçambique.

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Médica de Chitengo de serviço aos trabalhadores e visitantes do PN Gorongosa.

Em 2004, Joaquim Chissano validou uma parceria do Ministério Moçambicano do Turismo com a Fundação Carr, que Greg criara em 1999 para uma gestão de trinta anos da Gorongosa. Essa parceria previa um seu investimento de quase 25 milhões de euros.

Em infraestruturas, reintrodução de animais – como aconteceu com os 54 elefantes que comprou ao vizinho sul-africano Kruger Park –, integração das comunidades da Gorongosa e seu benefício dos lucros estimados do projecto.

Vasco Galante: o Braço Direito e o Homem Sempre no Terreno de Greg Carr

Por esta altura, Vasco Galante tornou-se o braço direito de Carr. Farto da vida empresarial que levava em Portugal, decidira já mudar de vida e Moçambique tinha-lhe ficado no coração.

Quando descobriu que Greg Carr procurava um responsável para a equipa da Gorongosa, o delicioso filme de Miguel Spiguel com locução de Fernando Pessa passou-lhe em repetido pela mente.

Vasco tornou-se parte incontornável da família do parque. Como o é Mateus Mutemba, o administrador com quem temos igualmente o privilégio de conviver, recém-galardoado pela National Geographic como um dos seus “Emerging Explorers” de 2017.

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Gansos deixam um lago repleto de vegetação anfíbia.

O Interesse dos Americanos na Gorongosa vs Política Isolacionista de Donald Trump

Nos dias em que nos acolhe, Chitengo está num frenesim.

Dezenas de norte-americanos do Idaho, quase todos com ligação a Greg Carr ou à sua família, estavam de visita.

A presença destes ianques não impede os sucessivos cercos e incursões dos babuínos à cozinha do restaurante. Nem os passeios nutricionais dos bandos de facocheros um pouco por todo o complexo.

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Um javali africano espreita de dentro da sua toca.

Juntamo-nos a um dos jipes em que seguem. Percebemos que, em grande parte dos casos, eram os primeiros safaris em que participavam e como viviam com entusiasmo e interesse redobrado toda a aprendizagem biológica da Gorongosa:

uma equipa de ornitólogos que capturava, pesava e identificava abutres para posterior estudo;

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A equipa de ornitólogos de Greg Kaltenecker obtem dados de um abutre de cabeça branca, espécie que estuda e acompanha na Gorongosa.

o assombro pelos seus ecossistemas sempre em mutação e o pôr-do-sol, exuberante, a desfazer-se para os lados da Serra.

Quando o escuro se instala, ajudamo-los e ao guia Moutinho – Monty como preferiam chamar-lhe – de foco luminoso em riste, a encontrar espécies nocturnas: ginetas, civetas e estridentes jagras.

De regresso a Chitengo, passamos por um dos incêndios vistoriados com que as autoridades mantêm a vegetação sob controle durante a época seca.

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Guias do Parque Nacional Gorongosa observam um incêndio no Parque Nacional Gorongosa.

No churrasco de despedida que se seguiu, um dos representantes do grupo americano agradeceu a oportunidade ao parque.

Aproveitou para alfinetar as políticas de relações internacionais de Donald Trump que cortou no apoio do USAID e de outros programas dos E.U.A. aos países mais necessitados.

“Poupamos nos programas com que ganhamos amigos no mundo, vamos ver-nos a gastar em armas para combater novos inimigos”.

O PN Gorongosa está prestes a receber uma extensão territorial até às margens do rio Zambeze.

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Impala prescruta o tando da Gorongosa sobre o ocaso.

Nos dias que correm, tão ou mais crucial para a Gorongosa que a ajuda externa é que Moçambique se mantenha em paz.

Ilha Ibo, Moçambique

Ilha de um Moçambique Ido

Foi fortificada, em 1791, pelos portugueses que expulsaram os árabes das Quirimbas e se apoderaram das suas rotas comerciais. Tornou-se o 2º entreposto português da costa oriental de África e, mais tarde, a capital da província de Cabo Delgado, Moçambique. Com o fim do tráfico de escravos na viragem para o século XX e a passagem da capital para Porto Amélia, a ilha Ibo viu-se no fascinante remanso em que se encontra.
Bazaruto, Moçambique

A Miragem Invertida de Moçambique

A apenas 30km da costa leste africana, um erg improvável mas imponente desponta do mar translúcido. Bazaruto abriga paisagens e gentes que há muito vivem à parte. Quem desembarca nesta ilha arenosa exuberante depressa se vê numa tempestade de espanto.
Ilha de Moçambique, Moçambique  

A Ilha de Ali Musa Bin Bique. Perdão, de Moçambique

Com a chegada de Vasco da Gama ao extremo sudeste de África, os portugueses tomaram uma ilha antes governada por um emir árabe a quem acabaram por adulterar o nome. O emir perdeu o território e o cargo. Moçambique - o nome moldado - perdura na ilha resplandecente em que tudo começou e também baptizou a nação que a colonização lusa acabou por formar.
Cape Cross, Namíbia

A Mais Tumultuosa das Colónias Africanas

Diogo Cão desembarcou neste cabo de África em 1486, instalou um padrão e fez meia-volta. O litoral imediato a norte e a sul, foi alemão, sul-africano e, por fim, namibiano. Indiferente às sucessivas transferências de nacionalidade, uma das maiores colónias de focas do mundo manteve ali o seu domínio e anima-o com latidos marinhos ensurdecedores e intermináveis embirrações.
PN Hwange, Zimbabwé

O Legado do Saudoso Leão Cecil

No dia 1 de Julho de 2015, Walter Palmer, um dentista e caçador de trofeus do Minnesota matou Cecil, o leão mais famoso do Zimbabué. O abate gerou uma onda viral de indignação. Como constatamos no PN Hwange, quase dois anos volvidos, os descendentes de Cecil prosperam.
Enxame, Moçambique

Área de Serviço à Moda Moçambicana

Repete-se em quase todas as paragens em povoações de Moçambique dignas de aparecer nos mapas. O machimbombo (autocarro) detém-se e é cercado por uma multidão de empresários ansiosos. Os produtos oferecidos podem ser universais como água ou bolachas ou típicos da zona. Nesta região a uns quilómetros de Nampula, as vendas de fruta eram sucediam-se, sempre bastante intensas.
Miranda, Brasil

Maria dos Jacarés: o Pantanal abriga criaturas assim

Eurides Fátima de Barros nasceu no interior da região de Miranda. Há 38 anos, instalou-se e a um pequeno negócio à beira da BR262 que atravessa o Pantanal e ganhou afinidade com os jacarés que viviam à sua porta. Desgostosa por, em tempos, as criaturas ali serem abatidas, passou a tomar conta delas. Hoje conhecida por Maria dos Jacarés, deu nome de jogador ou treinador de futebol a cada um dos bichos. Também garante que reconhecem os seus chamamentos.
Santa Lucia, África do Sul

Uma África Tão Selvagem Quanto Zulu

Na eminência do litoral de Moçambique, a província de KwaZulu-Natal abriga uma inesperada África do Sul. Praias desertas repletas de dunas, vastos pântanos estuarinos e colinas cobertas de nevoeiro preenchem esta terra selvagem também banhada pelo oceano Índico. Partilham-na os súbditos da sempre orgulhosa nação zulu e uma das faunas mais prolíficas e diversificadas do continente africano.
PN Lago Manyara, Tanzânia

África Favorita de Hemingway

Situado no limiar ocidental do vale do Rift, o parque nacional lago Manyara é um dos mais diminutos mas encantadores e ricos em vida selvagem da Tanzânia. Em 1933, entre caça e discussões literárias, Ernest Hemingway dedicou-lhe um mês da sua vida atribulada. Narrou esses dias aventureiros de safari em “As Verdes Colinas de África”.
PN Amboseli, Quénia

Uma Dádiva do Kilimanjaro

O primeiro europeu a aventurar-se nestas paragens masai ficou estupefacto com o que encontrou. E ainda hoje grandes manadas de elefantes e de outros herbívoros vagueiam ao sabor do pasto irrigado pela neve da maior montanha africana.
Esteros del Iberá, Argentina

O Pantanal das Pampas

No mapa mundo, para sul do famoso pantanal brasileiro, surge uma região alagada pouco conhecida mas quase tão vasta e rica em biodiversidade. A expressão guarani Y berá define-a como “águas brilhantes”. O adjectivo ajusta-se a mais que à sua forte luminância.
PN Serengeti, Tanzânia

A Grande Migração da Savana Sem Fim

Nestas pradarias que o povo Masai diz siringet (correrem para sempre), milhões de gnus e outros herbívoros perseguem as chuvas. Para os predadores, a sua chegada e a da monção são uma mesma salvação.
Ilha do Ibo a Ilha QuirimbaMoçambique

Ibo a Quirimba ao Sabor da Maré

Há séculos que os nativos viajam mangal adentro e afora entre a ilha do Ibo e a de Quirimba, no tempo que lhes concede a ida-e-volta avassaladora do oceano Índico. À descoberta da região, intrigados pela excentricidade do percurso, seguimos-lhe os passos anfíbios.
Pemba, Moçambique

De Porto Amélia ao Porto de Abrigo de Moçambique

Em Julho de 2017, visitámos Pemba. Dois meses depois, deu-se o primeiro ataque a Mocímboa da Praia. Nem então nos atrevemos a imaginar que a capital tropical e solarenga de Cabo Delgado se tornaria a salvação de milhares de moçambicanos em fuga de um jihadismo aterrorizador.
Ilha de Goa, Ilha de Moçambique, Moçambique

A Ilha que Ilumina a de Moçambique

A pequena ilha de Goa sustenta um farol já secular à entrada da Baía de Mossuril. A sua torre listada sinaliza a primeira escala de um périplo de dhow deslumbrante em redor da velha Ilha de Moçambique.

Machangulo, Moçambique

A Península Dourada de Machangulo

A determinada altura, um braço de mar divide a longa faixa arenosa e repleta de dunas hiperbólicas que delimita a Baía de Maputo. Machangulo, assim se denomina a secção inferior, abriga um dos litorais mais grandiosos de Moçambique.
Vilankulos, Moçambique

Índico vem, Índico Vai

A porta de entrada para o arquipélago de Bazaruto de todos os sonhos, Vilankulos tem os seus próprios encantos. A começar pela linha de costa elevada face ao leito do Canal de Moçambique que, a proveito da comunidade piscatória local, as marés ora inundam, ora descobrem.
Parque Nacional de Maputo, Moçambique

O Moçambique Selvagem entre o Rio Maputo e o Índico

A abundância de animais, sobretudo de elefantes, deu azo, em 1932, à criação de uma Reserva de Caça. Passadas as agruras da Guerra Civil Moçambicana, o PN de Maputo protege ecossistemas prodigiosos em que a fauna prolifera. Com destaque para os paquidermes que recentemente se tornaram demasiados.
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Safari
PN Chobe, Botswana

Chobe: um rio na Fronteira da Vida com a Morte

O Chobe marca a divisão entre o Botswana e três dos países vizinhos, a Zâmbia, o Zimbabwé e a Namíbia. Mas o seu leito caprichoso tem uma função bem mais crucial que esta delimitação política.
Braga ou Braka ou Brakra, no Nepal
Annapurna (circuito)
Circuito Annapurna: 6º – Braga, Nepal

Num Nepal Mais Velho que o Mosteiro de Braga

Quatro dias de caminhada depois, dormimos aos 3.519 metros de Braga (Braka). À chegada, apenas o nome nos é familiar. Confrontados com o encanto místico da povoação, disposta em redor de um dos mosteiros budistas mais antigos e reverenciados do circuito Annapurna, lá prolongamos a aclimatização com subida ao Ice Lake (4620m).
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Entre Haciendas e Cenotes, pela História do Iucatão

Em redor da capital Mérida, para cada velha hacienda henequenera colonial há pelo menos um cenote. Com frequência, coexistem e, como aconteceu com a semi-recuperada Hacienda Mucuyché, em duo, resultam nalguns dos lugares mais sublimes do sudeste mexicano.

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Cruzadas à Brasileira

Os exércitos cristãos expulsaram as forças muçulmanas da Península Ibérica no séc. XV mas, em Pirenópolis, estado brasileiro de Goiás, os súbditos sul-americanos de Carlos Magno continuam a triunfar.
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Upolu, Samoa

A Ilha do Tesouro de Stevenson

Aos 30 anos, o escritor escocês começou a procurar um lugar que o salvasse do seu corpo amaldiçoado. Em Upolu e nos samoanos, encontrou um refúgio acolhedor a que entregou a sua vida de alma e coração.
Natureza
Fanal, Madeira, Portugal

Fanal. Um Pasto algo Surreal

Irrigadas pelas nuvens que chegam do Atlântico Norte, as terras altas e verdejantes do Fanal são ideais para o pasto de bovinos. O gado parece já fazer parte da paisagem mágica e nem sequer as incursões humanas como a nossa parecem afectar a sua rotina.
Sheki, Outono no Cáucaso, Azerbaijão, Lares de Outono
Outono
Sheki, Azerbaijão

Outono no Cáucaso

Perdida entre as montanhas nevadas que separam a Europa da Ásia, Sheki é uma das povoações mais emblemáticas do Azerbaijão. A sua história em grande parte sedosa inclui períodos de grande aspereza. Quando a visitámos, tons pastéis de Outono davam mais cor a uma peculiar vida pós-soviética e muçulmana.
Terraços de Sistelo, Serra do Soajo, Arcos de Valdevez, Minho, Portugal
Parques Naturais
Sistelo, Peneda-Gerês, Portugal

Do “Pequeno Tibete Português” às Fortalezas do Milho

Deixamos as fragas da Srª da Peneda, rumo a Arcos de ValdeVez e às povoações que um imaginário erróneo apelidou de Pequeno Tibete Português. Dessas aldeias socalcadas, passamos por outras famosas por guardarem, como tesouros dourados e sagrados, as espigas que colhem. Caprichoso, o percurso revela-nos a natureza resplandecente e a fertilidade verdejante destas terras da Peneda-Gerês.
Thira, Santorini, Grécia
Património Mundial UNESCO
Fira, Santorini, Grécia

Fira: Entre as Alturas e as Profundezas da Atlântida

Por volta de 1500 a.C. uma erupção devastadora fez afundar no Mar Egeu boa parte do vulcão-ilha Fira e levou ao colapso a civilização minóica, apontada vezes sem conta como a Atlântida. Seja qual for o passado, 3500 anos volvidos, Thira, a cidade homónima, tem tanto de real como de mítico.
Ooty, Tamil Nadu, cenário de Bollywood, Olhar de galã
Personagens
Ooty, Índia

No Cenário Quase Ideal de Bollywood

O conflito com o Paquistão e a ameaça do terrorismo tornaram as filmagens em Caxemira e Uttar Pradesh um drama. Em Ooty, constatamos como esta antiga estação colonial britânica assumia o protagonismo.
Santa Maria, ilha do Sal, Cabo Verde, Desembarque
Praias
Santa Maria, Sal, Cabo Verde

Santa Maria e a Bênção Atlântica do Sal

Santa Maria foi fundada ainda na primeira metade do século XIX, como entreposto de exportação de sal. Hoje, muito graças à providência de Santa Maria, o Sal ilha vale muito que a matéria-prima.
Aurora ilumina o vale de Pisang, Nepal.
Religião
Circuito Annapurna: 3º- Upper Pisang, Nepal

Uma Inesperada Aurora Nevada

Aos primeiros laivos de luz, a visão do manto branco que cobrira a povoação durante a noite deslumbra-nos. Com uma das caminhadas mais duras do Circuito Annapurna pela frente, adiamos a partida tanto quanto possível. Contrariados, deixamos Upper Pisang rumo a Ngawal quando a derradeira neve se desvanecia.
Trem do Serra do Mar, Paraná, vista arejada
Sobre Carris
Curitiba a Morretes, Paraná, Brasil

Paraná Abaixo, a Bordo do Trem Serra do Mar

Durante mais de dois séculos, só uma estrada sinuosa e estreita ligava Curitiba ao litoral. Até que, em 1885, uma empresa francesa inaugurou um caminho-de-ferro com 110 km. Percorremo-lo, até Morretes, a estação, hoje, final para passageiros. A 40km do término original e costeiro de Paranaguá.
Walter Peak, Queenstown, Nova Zelandia
Sociedade
Nova Zelândia  

Quando Contar Ovelhas Tira o Sono

Há 20 anos, a Nova Zelândia tinha 18 ovinos por cada habitante. Por questões políticas e económicas, a média baixou para metade. Nos antípodas, muitos criadores estão preocupados com o seu futuro.
Cruzamento movimentado de Tóquio, Japão
Vida Quotidiana
Tóquio, Japão

A Noite Sem Fim da Capital do Sol Nascente

Dizer que Tóquio não dorme é eufemismo. Numa das maiores e mais sofisticadas urbes à face da Terra, o crepúsculo marca apenas o renovar do quotidiano frenético. E são milhões as suas almas que, ou não encontram lugar ao sol, ou fazem mais sentido nos turnos “escuros” e obscuros que se seguem.
O rio Zambeze, PN Mana Poools
Vida Selvagem
Kanga Pan, Mana Pools NP, Zimbabwe

Um Manancial Perene de Vida Selvagem

Uma depressão situada a 15km para sudeste do rio Zambeze retém água e minerais durante toda a época seca do Zimbabué. A Kanga Pan, como é conhecida, nutre um dos ecossistemas mais prolíficos do imenso e deslumbrante Parque Nacional Mana Pools.
Pleno Dog Mushing
Voos Panorâmicos
Seward, Alasca

O Dog Mushing Estival do Alasca

Estão quase 30º e os glaciares degelam. No Alasca, os empresários têm pouco tempo para enriquecer. Até ao fim de Agosto, o dog mushing não pode parar.