Camiguin, Filipinas

Uma Ilha de Fogo Rendida à Água


Antes da chuva
Cenário palafítico do manguezal de Katungan.
Equilíbrio frágil
Barqueiro de bangka, prepara-se para arrumar a sua embarcação na praia de areia negra junto ao Cemitério Afundado de Camiguin.
Colheira ameaçada
Camponeses recolhem arroz recém-colhido na iminência de uma forte chuvada de monçao.
Soda pool, Soda water
Banhistas na piscina de água termal Soda Pool, uma de várias de Camiguin.
Época de lanzones
Vendedora de lanzones (fruta tropical das Filipinas, Tailândia, Indonésia e outros) conversa com clientes no sopé do Vulcão Velho.
Febre de Sábado à noite
Guia local Ken, a bordo da caixa de passageiro de um jeepney.
Bangkas sem fim
Longa sequência de bangkas ancoradas na ilha de Mantiguin, ao largo de Camiguin.
Navegação encerrada
Funcionária do porto de bangkas de Camiguin dá como encerrada a actividade das viagens à White Island devido ao vento e ondulação trazida pela aproximação do furacão Sarika.
Águas Rasas
Barqueiro conduz uma bangka nas água pouco profundas do mangal de Katungan, Camiguin
Jeepney Sobrelotado II
Jovens nativos de Camiiguin sobrelotam um dos jeepneys da ilha.
Porcos de Yubeng
Porcos contemplam visitantes fotográficos inesperados da aldeia de Yubeng.
Banhistas das Soda Pools
Grupo de banhistas diverte-se nas águas minerais das Soda Pools.
Banhistas das Soda Pools II
Grupo de banhistas diverte-se nas águas minerais das Soda Pools.
Vendedora de Lanzones
Jovem comerciante de lanzones (Lansium domesticum) cuida da sua banca no início da Via Crucis do vulcão Hibok Hibok, em Camiguin.
Ancoradouro de Bangkas II
Bangkas ancoradas ao largo da White Island, ao largo de Camiguin.
Moradores de Yubeng
Moradores de um lar da aldeia de Yubeng, Camiguin.
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Os meandros de areia da White island, ao largo de Camiguin.
Festival Lanzones It
Crianças que participam nos ensaios do Festival dos Lanzones de Camiguin, em redor de um jeepney sobrelotado.
Estrada de Monção
Estrada de Camiguin encharcada pela chuva trazida por ciclones.
Igreja Bonbon
Uma grande poça no que em tempos foi a nave da igreja colonial (hispânica) de Bonbon.
Com mais de vinte cones acima dos 100 metros, a abrupta e luxuriante, Camiguin tem a maior concentração de vulcões que qualquer outra das 7641 ilhas filipinas ou do planeta. Mas, nos últimos tempos, nem o facto de um destes vulcões estar activo tem perturbado a paz da sua vida rural, piscatória e, para gáudio dos forasteiros, fortemente balnear.

A monção habagat continuava a saturar o grande arquipélago filipino de humidade produzida mais abaixo no mapa, da evaporação dos mares mornos das Celebes, Banda e companhia.

Seguimos a bordo de um avião que descolara de Mactan-Cebu para um céu coberto de nuvens densas, dispostas em camadas. No solo, a falta de luz solar directa achatava os cenários.

Nem assim deixámos de reconhecer as Chocolate Hills de Bohol, uma vasta colónia de outeiros redondos e verdejantes espalhados a meio do caminho para o destino final. Cruzamos o Mar de Bohol e, com relativa facilidade, reconhecemos Camiguin. São quase oito mil as ilhas filipinas.

Nenhuma outra se revela assim, ao longe, como um cone achatado solitário, projectado das águas.

O piloto faz o avião descer e, com um círculo apertado, alinhar-se com o extremo da pista de chegada. Vinte minutos depois, já aterrávamos no eco-hotel Bahay Bakasasyunan.

Sentimos a manobra mais como de borregagem tão curto foi o tempo de repouso.

À hora combinada, lá estávamos os dois sob o tecto da recepção feito de metades de cocos secos. Michael, o guia que nos acompanhava desde Manila, apresenta-nos o anfitrião local, Ken.

Ken, por sua vez, revela-nos o motorista Jamie. Este último dá-nos a conhecer o veículo em que nos transportaria a todos. Devíamos tê-lo suspeitado: era um jeepney.

Périplo por Camiguin. A Bordo de um Jeepney, Claro Está.

Mais moderno, não tão típico ou exuberante que aqueles que os filipinos se habituaram a fabricar com motores dos jipes abandonados pelos norte-americanos no fim da 2ª Guerra Mundial. Ainda assim, de um verde quase fluorescente, decorado com um homem-aranha a levantar voo de entre os faróis dianteiros.

Tínhamos dormido quatro horas mas fizemo-nos fortes como o super-herói. Demos início aquele novo almanaque filipino. Como bom cristão, Ken sugere começarmos a explorar a ilha pela igreja San Nicolas de Tolentino, a maior da capital Mambajao, templo abençoador de toda Camiguin.

Camiguin, Filipinas, Maquete Igreja San Nicolas Tolentino

Maquete à entrada da igreja de San Nicolas de Tolentino, na capital Mambajao expõe um Cristo a abençoar a ilha de Camiguin.

Encontramos a sua nave à pinha de jovens de uniforme escolar que assistem a uma eucaristia matinal com a quietude possível.

Depressa nos tornamos no principal foco de distração pelo que precipitamos a debandada para outras paragens. Não fazíamos ideia do quão longe a missa ia do adro, no que dizia respeito a Cristianismo.

Camiguin, Filipinas, estrada ensopada

Estrada de Camiguin encharcada pela chuva trazida por ciclones.

Voltamos a deter-nos, agora na base de um vulcão que os nativos apelidaram de “Old” apesar de ser o mais recente da ilha, nascido em 1871, de uma chaminé do Monte Hibok-Hibok, este, o único em actividade.

A população da ilha conhece bem o histórico de destruição causada pelo Hibok Hibok.

Este vulcão teve uma erupção violenta em 1951 que arrasou 20km da ilha.

Provocou três mil mortes e uma emigração massiva que fez diminuir para metade os seus 70.000 habitantes.

Camiguin, Filipinas, vulcão Hibok Hibok

Hibok Hibok: o protagonista vulcânico da ilha de Camiguin, no sul das Filipinas.

Uma Via Crucis Abonecada Pela Misericórdia do Vulcão Hibok Hibok

De acordo, rogam-lhe clemência na forma de uma Via Crucis disposta monte acima, com cada uma das estações ilustradas por estátuas tão kitsch quanto coloridas. Ken informa-nos que são dois mil os degraus até à última estação.

Habituados a pagar promessas afins pelo amor à descoberta, metemo-nos a caminho, ao mesmo tempo que três crentes femininas, uma delas de cinquenta e tal anos e duas jovens, uma das quais mais bonitinha, com um ego reforçado e memória fotográfica para selfies a condizer.

As estações sucedem-se. Cristo caminha derreado para a sua cruz, ladeado de centuriões abonecados. Nós, tanto passamos pelo trio como somos por ele ultrapassado consoante o tempo que nos detemos em determinadas estações.

Da décima estação em diante, a vegetação tropical da encosta concede planos panorâmicos daquela vertente da ilha, no imediato, coberta por plantas espanadores, mais abaixo e até à beira-mar, de coqueirais.

Deixamos a 12ª estação em que Jesus morre na cruz. A 13ª surge dentro de uma cova coberta de musgo. Quando entramos, deparamo-nos com as três mulheres já em oração, ajoelhadas sobre a estátua de Cristo deposto e acarinhado pela mãe.

Camiguin, Filipinas, adoração de Cristo, Via Crucis

Cristãs Filipinas oram junto a uma imagem de Cristo, uma das derradeiras da Via Crucis instalada na encosta do vulcão Hibok Hibok.

Acompanhamos as suas preces em silêncio.

Ainda assim, a mais velha pressente-nos. Quando se vira para trás e nos contempla, as lágrimas correm-lhe, abundantes, face abaixo. Trocamos sorrisos tímidos e deixamo-las entregues à sua fé.

Os Prolíficos Lanzones e as Soda Waters de Camiguin

Regressados ao início da escadaria, uma nativa tinha montado uma banca e vendia lansiums, ou lanzones como lhes chamam os filipinos, uma fruta do estilo da líchia.

Camiguin, Filipinas, vendedora de Lanzones

Jovem comerciante de lanzones (Lansium domesticum) cuida da sua banca no início da Via Crucis do vulcão Hibok Hibok, em Camiguin.

Durante o trecho de jeepney que se seguiu, devorarmos dezenas das suas polpas e recuperámos boa parte dos nutrientes suados na subida.

Era a primeira vez que ouvíamos falar de lanzones. Muitas mais se repetiriam.

Como acontece com frequência nos redutos vulcânicos, brotavam das profundidades de Camiguin fartas águas termais. Passámos por umas primeiras conhecidas por Soda Waters.

Camiguin, Filipinas, Soda Swimming Pool

Banhistas na piscina de água termal Soda Pool, uma de várias de Camiguin.

Seguimos para a nascente e piscina de Santo Niño, esta bem mais desafogada e, assim viemos a constatar, com um importante papel social na ilha.

Ken instalou-nos e a Michael sob abrigo usado para refeições. Logo, surgiu uma senhora que nos serviria o almoço. A piscina de água fria resplandecia de vida. No seu interior, peixes pedicures mordiscavam-nos os pés de molho.

Sediado do lado oposto do muro mas em permanente movimento, um grupo protagonizava um festival de galhofa, partidas e acrobacias. Michael examina-os com atenção: “Não é normal os filipinos terem corpos assim naquelas idades. São polícias de Cagayan de Oro.

Camiguin, Filipinas, banhista Soda Pools

Grupo de banhistas diverte-se nas águas minerais das Soda Pools.

Tiveram o fim-de-semana de folga, apanharam o ferry e vieram até cá descontrair.

Camiguin distava uma mera hora de barco da capital de Mindanao, a má afamada grande ilha do sul das Filipinas.

Terminamos o almoço e enfiamo-nos na piscina para nosso próprio recreio. Um grupo de crianças lideradas por um treinador, junta-se a nós, reclama várias das pistas inexistentes e dá início a um treino de natação.

Era o estímulo de que precisávamos para deixarmos o lugar e o descanso.

Ensaios Escolares para o Festival dos Lanzones

Quilómetros adiante, passámos por uma escola em que um elenco de miúdos ensaiava ao som de tambores. “Ah, é verdade…” atira Ken. “Nós, cá, temos o Festival dos Lanzones.

É já daqui a uns dias. Agora há ensaios em todas as escolas.” Durante vinte minutos, apreciámos as coreografias dos alunos, munidos de estandartes pintadas com cachos amarelos e passámos por casas em que moradores de Camiguin preparavam e provavam as vestes do festival.

Camiguin, Filipinas, Prova de trajes para o Festival Lanzones

Trabalho árduo de preparação e prova de vestes numa casa de Camiguin.

Por fim, lá nos dedicámos ao fito original da visita.

Ao longo da sua colonização das actuais Filipinas, os espanhóis ergueram torres de vigia que facilitavam o avistamento dos inimigos mouros de etnia malaia.

Uma delas, até então escondida pelo edifício escolar, abrigava tropelias de várias outras crianças.

O Misterioso Manguezal de Katungan

Prosseguimos o manguezal de Katungan que a maré baixa deixara descoberto.

Atravessámo-lo sobre passadiços de madeira que entravam floresta adentro com extensões para intrigantes refúgios lacustres. Tinham sido construídos nos recantos mais encantadores da paisagem que se reflectia no mar raso e estático.

Camiguin, Filipinas, manguezal de Katungan.

Cenário palafítico do manguezal de Katungan.

Por essa altura, nuvens arroxeadas filtravam a luz solar e tornavam aquela natureza viva ainda mais especial.

Casais de namorados conhecedores do lugar, ocupavam vários dos refúgios, distantes de outros partilhados por famílias barulhentas.

O crepúsculo não tardou a envolver o mangal.

Camiguin, Filipinas, bangka mangal Katungan

Barqueiro conduz uma bangka nas água pouco profundas do mangal de Katungan, Camiguin

E a precipitar o regresso ao hotel.

Nova Manhã, a Tempestade que se Seguiu

Acordámos pela primeira vez em Camiguin.

O conforto do descanso não chegou sequer ao pequeno-almoço. Andávamos de olho na meteorologia caprichosa da monção habagat e o vento forte já chegara a Camiguin.

Quando nos encontrámos à mesa, tanto nós como Michael sabíamos que um tal de furacão Sarika (Karen) se aproximava de Luzon, seguido de outro, o Haima (Lewin).

A comitiva de uma reunião familiar convivia numa grande mesa ao lado. Não tardaram perseguir um chapéu de senhora que voou para o mar.

Longínqua mas poderosa, a tempestade tornou aventureira a incursão de bangka (embarcação tradicional filipina) à ilha menor de Mantique.

Camiguin, Filipinas, Bangkas, White Island

Bangkas ancoradas em Mantique, ao largo de Camiguin.

No regresso, subimos ao observatório do vulcão Hibok Hibok.

Vencida a resistência de Edmund, o único funcionário do lugar, ficámos uma hora no terraço do edifício atentos ao momento em que as nuvens lhe revelassem a cratera.

Contamos-lhe que tínhamos subido ao cume do Pico (Açores) uns dias antes. A narrativa fascina-o. Inspira uma profícua conversa sobre vulcões.

Durante a descida vertiginosa para o litoral, cruzamo-nos com outros jeepneys à pinha de crianças e adolescentes que se dirigiam para os ensaios do Festival de Lanzones.

Camiguin, Filipinas, Festival Lanzones itinerante

Crianças que participam nos ensaios do Festival dos Lanzones de Camiguin, em redor de um jeepney sobrelotado.

Só nos detemos na iminência da enorme cruz que assinalava o Cemitério Afundado da ilha.

Primeiro no cimo das escadarias, depois sobre o areal negro abaixo, entretemo-nos a apreciar os vaivéns excitados das famílias a bordo de bangkas operadas em regime de turnos e num engenhoso modo de puxa-corda.

Camiguin, Filipinas, e

Barqueiro de bangka, prepara-se para arrumar a sua embarcação na praia de areia negra junto ao Cemitério Afundado de Camiguin.

O novo dia amanheceu mais uma vez ventoso e com o mar revolto.

De acordo, a capitania local suspendeu as viagens de bangka até à White Island.

Bangkas sem fim

Funcionária do porto de bangkas de Camiguin dá como encerrada a actividade das viagens à White Island devido ao vento e ondulação trazida pela aproximação do furacão Sarika.

A White Island era bem mais que um enorme banco de areia coralífera. Em dias de esplendor tropical proporcionava fabulosos momentos balneares com vista privilegiada para a ilha de Camiguin.

Tornou-se, assim, uma das mais reputadas imagens de marca das Filipinas, um manancial de fotogenia que nos continuava barrado. Conformámo-nos e retornámos ao jeepney.

Dirigimo-nos para a velha igreja espanhola de Bonbon quando, à passagem pela aldeia de Yubeng, avistamos camponeses a trabalhar num arrozal muito amarelo.

Camiguin, Filipinas, trabalho em arrozal

Camponeses recolhem arroz recém-colhido na iminência de uma forte chuvada de monção.

Camiguin, Filipinas, Yubeng, abrigo da chuva

Moradores de Yubeng em assembleia abrigam-se de chuva torrencial levada a Camiguin por mais uma ciclone.

E o Abrigo Providencial numa Casa Rural de Yubeng

A essa hora, era tanta a água acumulada no céu azul-escuro que parecia ir desabar mais minuto menos minuto.

O dilúvio apanhou-nos à beira do arrozal. Ken activou o seu modo de protecção civil: “Venham por aqui. Eu conheço os donos desta casa. O filho foi da minha turma!”.

Passamos por porcos surpresos.

Camiguin, Filipinas, porcos de Yubeng

Porcos contemplam visitantes fotográficos inesperados da aldeia de Yubeng.

Após o que Ken bate à porta.

Do interior, abriram-nos caminho ao refúgio, tudo isto a acontecer sob o olhar incrédulo de dezenas de vizinhos que participavam numa reunião daquele mesmo barangay (freguesia) realizada debaixo de um telheiro.

Assim mesmo, Ken instalou-nos numa espécie de canapé frente a frente com um ancião que via T.V. na companhia de três netos.

Camiguin, Filipinas, Moradores de Yubeng

Moradores de um lar da aldeia de Yubeng, Camiguin.

O senhor manteve-se em silêncio, ou indignado ou acanhado pela nossa presença. Durante mais de meia-hora, passaram muitas mais pessoas, pela sala e por um varandim acima, ligado a diferentes quartos.

Era extensa a família que partilhava aquele lar.

Com a ajuda de Ken, fotografamo-nos na companhia de todos. Quando a chuva dá tréguas, retomamos o circuito.

A Igreja de Bonbon como Legado da Cristianização Hispânica

Mesmo encharcada e desabrigada como estava, a velha igreja hispânica do século XVII deslumbrou-nos. Um sismo tinha-lhe derrubado o telhado e o piso era já de terra.

A humidade das monções cobria-lhe as paredes de musgo.

Camiguin, Filipinas, Igreja Bonbon

Uma grande poça no que em tempos foi a nave da igreja colonial (hispânica) de Bonbon.

Nada disso impedia que acolhesse uma missa mensal em que os crentes da ilha participavam com redobrado entusiasmo.

Às quatro da tarde, o vento amainou e as nuvens cederam a um céu azul. Não nos saía da cabeça a frustração da White Island mas sendo Domingo, a actividade das bangkas continuava barrada pela proibição matinal da capitania.

Habituados a forçar soluções, re-despertámos Michael e Ken para a importância da missão. Ken, percebeu a urgência do apelo complementar de Michael.

Findos três ou quatro telefonemas arrastados em tagalog, comunicou-nos que, muito excepcionalmente, nos tinham disponibilizado uma bangka com um dos melhores timoneiros de Camiguin.

Uma Incursão Forçada à Famosa White Island de Camiguin

Jamie fez o jeepney voar até ao porto. Ignorámos o melhor possível as experiências passadas do quanto as bangkas eram inadequadas para navegar com ondas e entregámo-nos à viagem. O timoneiro sossegou-nos a todos. “Não se preocupem.

Está agitado mas não é nada de especial.” Dez minutos de montanha-russa marinha depois, ancorámos do lado protegido. Corremos desenfreados para a sua extremidade norte.

Quando nos viramos para trás, ofegantes, somos prendados com a vista sublime da enorme língua de areia, curva e deserta.

Camiguin, Filipinas, White Island

Meandros de areia da White island, ao largo de Camiguin.

Para diante, Camiguin surgia projectada do oceano. Sobrepunha-se ao mar, imponente, luxuriante e, agora com todas as cores do casario no sopé, dos seus coqueiros e da vegetação espraiada encosta acima, até às crateras supremas.

Desde a permissão conseguida por Ken, o sol baixara, apressado, no horizonte.

O barqueiro, por seu lado, tinha instruções para nos fazer voltar à ilha às cinco e meia. Atrasámos a hora o mais que pudemos. Quando o sol caiu atrás de nuvens baixas, rendemo-nos às evidências e metemo-nos na bangka.

Vencemos mais dez minutos de sobe-e-desce algo assustadores e desembarcámos numa praia ao lado do porto.

A salvo e até secos, completámos o percurso nocturno até ao topo da ilha, já sob a luz artificial do jeepney.

Época de lanzones

Guia local Ken, a bordo da caixa de passageiros de um jeepney.

Devolvidos ao aconchego do Bahay Bakasasyunan, entregámo-nos a uma celebração do descanso que fez prolongar o jantar.

Na manhã seguinte regressámos a Cebu e à Mactan em que Fernão Magalhães deixou a vida.

Talisay City, Filipinas

Monumento a um Amor Luso-Filipino

No final do século XIX, Mariano Lacson, um fazendeiro filipino e Maria Braga, uma portuguesa de Macau, apaixonaram-se e casaram. Durante a gravidez do que seria o seu 11º filho, Maria sucumbiu a uma queda. Destroçado, Mariano ergueu uma mansão em sua honra. Em plena 2ª Guerra Mundial, a mansão foi incendiada mas as ruínas elegantes que resistiram eternizam a sua trágica relação.
Mactan, Cebu, Filipinas

O Atoleiro de Magalhães

Tinham decorrido quase 19 meses de navegação pioneira e atribulada em redor do mundo quando o explorador português cometeu o erro da sua vida. Nas Filipinas, o carrasco Datu Lapu Lapu preserva honras de herói. Em Mactan, uma sua estátua bronzeada com visual de super-herói tribal sobrepõe-se ao mangal da tragédia.
Boracay, Filipinas

A Praia Filipina de Todos os Sonhos

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El Nido, Filipinas

El Nido, Palawan: A Última Fronteira Filipina

Um dos cenários marítimos mais fascinantes do Mundo, a vastidão de ilhéus escarpados de Bacuit esconde recifes de coral garridos, pequenas praias e lagoas idílicas. Para a descobrir, basta uma bangka.
Hungduan, Filipinas

Filipinas em Estilo Country

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Filipinas

Os Donos da Estrada Filipina

Com o fim da 2ª Guerra Mundial, os filipinos transformaram milhares de jipes norte-americanos abandonados e criaram o sistema de transporte nacional. Hoje, os exuberantes jeepneys estão para as curvas.
Vigan, Filipinas

Vigan, a Mais Hispânica das Ásias

Os colonos espanhóis partiram mas as suas mansões estão intactas e as kalesas circulam. Quando Oliver Stone buscava cenários mexicanos para "Nascido a 4 de Julho" encontrou-os nesta ciudad fernandina
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Quando os Romanos Invadem as Filipinas

Nem o Império do Oriente chegou tão longe. Na Semana Santa, milhares de centuriões apoderam-se de Marinduque. Ali, se reencenam os últimos dias de Longinus, um legionário convertido ao Cristianismo.
Marinduque, Filipinas

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Nenhuma nação em redor é católica mas muitos filipinos não se deixam intimidar. Na Semana Santa, entregam-se à crença herdada dos colonos espanhóis.A auto-flagelação torna-se uma prova sangrenta de fé
Filipinas

Quando só as Lutas de Galos Despertam as Filipinas

Banidas em grande parte do Primeiro Mundo, as lutas de galos prosperam nas Filipinas onde movem milhões de pessoas e de Pesos. Apesar dos seus eternos problemas é o sabong que mais estimula a nação.
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A Armada Japonesa Secreta mas Pouco

Na 2ª Guerra Mundial, uma frota nipónica falhou em ocultar-se ao largo de Busuanga e foi afundada pelos aviões norte-americanos. Hoje, os seus destroços subaquáticos atraem milhares de mergulhadores.
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Erevan, Arménia

Uma Capital entre o Leste e o Ocidente

Herdeira da civilização soviética, alinhada com a grande Rússia, a Arménia deixa-se seduzir pelos modos mais democráticos e sofisticados da Europa Ocidental. Nos últimos tempos, os dois mundos têm colidido nas ruas da sua capital. Da disputa popular e política, Erevan ditará o novo rumo da nação.
Kogi, PN Tayrona, Guardiães do Mundo, Colômbia
Parques Naturais
PN Tayrona, Colômbia

Quem Protege os Guardiães do Mundo?

Os indígenas da Serra Nevada de Santa Marta acreditam que têm por missão salvar o Cosmos dos “Irmãos mais Novos”, que somos nós. Mas a verdadeira questão parece ser: "Quem os protege a eles?"
city hall, capital, oslo, noruega
Património Mundial UNESCO
Oslo, Noruega

Uma Capital (sobre) Capitalizada

Um dos problemas da Noruega tem sido decidir como investir os milhares milhões de euros do seu fundo soberano recordista. Mas nem os recursos desmedidos salvam Oslo das suas incoerências sociais.
Vista do topo do Monte Vaea e do tumulo, vila vailima, Robert Louis Stevenson, Upolu, Samoa
Personagens
Upolu, Samoa

A Ilha do Tesouro de Stevenson

Aos 30 anos, o escritor escocês começou a procurar um lugar que o salvasse do seu corpo amaldiçoado. Em Upolu e nos samoanos, encontrou um refúgio acolhedor a que entregou a sua vida de alma e coração.
Avião em aterragem, Maho beach, Sint Maarten
Praias
Maho Beach, Sint Maarten

A Praia Caribenha Movida a Jacto

À primeira vista, o Princess Juliana International Airport parece ser apenas mais um nas vastas Caraíbas. Sucessivas aterragens a rasar a praia Maho que antecede a sua pista, as descolagens a jacto que distorcem as faces dos banhistas e os projectam para o mar, fazem dele um caso à parte.
Um contra todos, Mosteiro de Sera, Sagrado debate, Tibete
Religião
Lhasa, Tibete

Sera, o Mosteiro do Sagrado Debate

Em poucos lugares do mundo se usa um dialecto com tanta veemência como no mosteiro de Sera. Ali, centenas de monges travam, em tibetano, debates intensos e estridentes sobre os ensinamentos de Buda.
Chepe Express, Ferrovia Chihuahua Al Pacifico
Sobre Carris
Creel a Los Mochis, México

Barrancas de Cobre, Caminho de Ferro

O relevo da Sierra Madre Occidental tornou o sonho um pesadelo de construção que durou seis décadas. Em 1961, por fim, o prodigioso Ferrocarril Chihuahua al Pacifico foi inaugurado. Os seus 643km cruzam alguns dos cenários mais dramáticos do México.
Vegetais, Little India, Singapura de Sari, Singapura
Sociedade
Little India, Singapura

Little Índia. A Singapura de Sari

São uns milhares de habitantes em vez dos 1.3 mil milhões da pátria-mãe mas não falta alma à Little India, um bairro da ínfima Singapura. Nem alma, nem cheiro a caril e música de Bollywood.
Amaragem, Vida à Moda Alasca, Talkeetna
Vida Quotidiana
Talkeetna, Alasca

A Vida à Moda do Alasca de Talkeetna

Em tempos um mero entreposto mineiro, Talkeetna rejuvenesceu, em 1950, para servir os alpinistas do Monte McKinley. A povoação é, de longe, a mais alternativa e cativante entre Anchorage e Fairbanks.
Jipe cruza Damaraland, Namíbia
Vida Selvagem
Damaraland, Namíbia

Namíbia On the Rocks

Centenas de quilómetros para norte de Swakopmund, muitos mais das dunas emblemáticas de Sossuvlei, Damaraland acolhe desertos entrecortados por colinas de rochas avermelhadas, a maior montanha e a arte rupestre decana da jovem nação. Os colonos sul-africanos baptizaram esta região em função dos Damara, uma das etnias da Namíbia. Só estes e outros habitantes comprovam que fica na Terra.
Passageiros, voos panorâmico-Alpes do sul, Nova Zelândia
Voos Panorâmicos
Aoraki Monte Cook, Nova Zelândia

A Conquista Aeronáutica dos Alpes do Sul

Em 1955, o piloto Harry Wigley criou um sistema de descolagem e aterragem sobre asfalto ou neve. Desde então, a sua empresa revela, a partir do ar, alguns dos cenários mais grandiosos da Oceania.