Um dos furacões que, com frequência, devassa a região oriental do grande arquipélago filipino fazia das suas.
Aumentava e intensificava-se de dia para dia, com uma previsão de rota difícil de estimar. Agitou os últimos dias que passamos em Manila.
Gerou indefinição quanto e para onde poderíamos voar e explorar em segurança.
Legazpi, Albay e o vasto leste filipino que costuma sofrer os primeiros e piores impactos, depressa ficam fora de questão.
No lado oposto do território, as ilhas de Panay, Guimaras e até Negros suscitavam pouca apreensão, além duns momentos iniciais de voo agitados à saída de Manila.
De acordo, partimos.
O tempo em Panay revela-se normal para uma época de chuvas.

Tricycle cruza uma ponte de Iloilo, Panay
Quente, abafado, mais para o fim da tarde, arrefecido por bátegas fulminantes. Previsões meteorológicas ocidentais afiançam que a incursão do furação cobriria boa parte das Visayas de uma densa nebulosidade.
Faz-nos pôr em causa um plano que já vinha de há algum tempo de desbravarmos a linha de costa e as praias ao largo de Iloilo, a capital de Panay que teríamos como base.
Passa das oito da manhã seguinte. Enquanto tomamos o pequeno-almoço, espreitamos o céu para distintos lados do hotel.
Ao contrário do previsto, o céu está azul-azulão.
A atmosfera límpida e tranquila. Subsistem, apenas em nós, derradeiros laivos, de indecisão. Ainda antes das nove, dissipam-se.

Condutor e passageiros de um tricycle, numa estrada da ilha de Guimaras
Embarque numa Grande Bangka, a Caminho de Guimaras
Despachamo-nos a chegar a um tal de cais Ortiz. É de lá que zarpam as embarcações destinadas à ilha vizinha de Guimaras, estendida para sul de Iloilo.
Quando lá chegamos, sem grande surpresa, espera-nos uma bangka, o barco tradicional disseminado pelo quase todo das Filipinas, de Batanes a Palawan e a Camiguin.
Prova-se mais ampla que aquelas em que nos tínhamos habituado a desfrutar dos mares da nação pinoy.
Era uma bangka superlativa, com uma cobertura de pano que salvava um máximo de quarenta passageiros do sol tropical.
E dois flutuadores condizentes que, à falta de estabilidade da estrutura fulcral, garantiam uma navegação sustentada.

Tripulantes no exterior de um dos ferries que ligam Iloilo, Panay, à ilha vizinha de Guimaras
Pelo menos, até uma determinada agitação do mar.
Instalamo-nos num dos bancos de madeira. Instantes depois, zarpamos para o Estreito de Iloilo.
Avançamos mais rápido que outras bangkas coloridas e exuberantes, com destinos distintos, pouco mais distantes que o nosso.
A “Oro Verde”, a “Inday”, a “Kristine”, a “Francis Ivan IV”.
Todas deixam para trás a zona portuária de Iloilo, os seus armazéns envelhecidos, depósitos de combustível mal-escondidos atrás de sebes de coqueiros jovens, até à data, resistentes aos frequentes vendavais.

Depósito de combustível nos arredores de Iloilo
Afastamo-nos do casario, das torres das igrejas coloniais que fazem de Iloilo uma das principais cidades católicas das Filipinas.
Aos poucos, o vislumbre urbano torna-se difuso e nevoento.
Trocamo-lo pelo verde-selva tropical da costa iminente de Guimaras, quebrado apenas por umas poucas enseadas menos abruptas, com areais generosos:
a Capitoguan, a piscatória de Morobuan, a Cabaling, a Casita Beach e a Tatlong.

Vista do litoral oeste de Guimaras, a partir de um ponto mais elevado da ilha
Desembarcamos no molhe de Jordan, uma povoação que as antecede.
Viagem de Jeepney entre Jordan e o Raymen Beach Resort
Ali, subimos a bordo de um jeepney.
É uma espécie de equivalente terrestre da bangka, durante décadas a seguir ao fecho da 2ª Guerra Mundial.
O veículo de transporte comunal pródigo das Filipinas, produzido a partir dos milhares de jipes Willies (e outros) que os americanos abandonaram.

Passageiro de um jeepney, olha para um outro
No jeepney, percorremos a Guimaras Circunferential Road. Até desviarmos para Nova Valência e para a península salpicada de arrozais e de lagoas a ocidente.
Esperam-nos no Raymen Beach Resort, um hotel de praia imposto à de Alibuhod.
Numa das salas exteriores, quatro rapazes pinoys jogam snooker numa de duas mesas amplas.

Trabalhadores do Raymen Beach Resort jogam snooker.
A História, em Parte, Portuguesa-Espanhola da Cerveja San Miguel
A caixa que a ilumina sustenta um anúncio da cerveja San Miguel, estabelecida, em 1890, no bairro homónimo de Manila, por Don Enrique Maria Barreto de Ycaza.
A sua família teve origem num nativo de Goa que, ao converter-se ao Catolicismo, adoptou o apelido Barretto e, pouco depois, casou com a filha de um nobre e mercante português.
Os Barretto fixaram-se e investiram em Bombaím, em Bengala e em Macau. De Macau, era também a portuguesa Maria Braga, que se casou com o fazendeiro Mariano Lacson e veio a falecer na ilha vizinha de Negros, durante a gravidez do 11º filho de ambos.,
Mais tarde, também em Manila, onde os descendentes (incluindo Enrique) adquiriram nacionalidade espanhola e fundaram La Fábrica de Cerveza de San Miguel, a primeira do Sudoeste Asiático e, com o tempo, uma das marcas emblemáticas das Filipinas.
O Raymen Beach Resort faz de ponto de partida para um périplo de fotografia e banhos pelas praias em redor, consideradas as melhores da ilha de Guimaras e do sub-arquipélago das Visayas.
Uma frente densa de coqueiros separa os edifícios desse e doutros resorts dum areal amarelado que o mar coralino e esmeraldino afaga.

Enseada tropical da costa ocidental de Guimaras, nas imediações da ilha Ave Maria
Quando desvendamos o cenário de Alubihod, de imediato, sentimo-nos tentados a mergulhar naquele retalho sedutor de Oceano Pacífico.
Dizem-nos que vamos ter tempo.
Navegação numa Bangka Menor, pelo Litoral Ocidental de Guimaras
Em vez, conduzem-nos a um canto da praia. Voltamos a embarcar.
Numa bangka, claro está, diminuta se comparada com a da ligação entre Iloilo e Jordan.

Bangkas na enseada da praia Alubihod, Guimaras
Vemos várias outras, ancoradas sobre o mar ciano.
Mesmo se alinhada com a costa contrária e distante, parece sobrevoá-las uma caravana de nuvens pardas.
Contemplamos a vista marinha, a partir do areal de Alubihod, quando uma das bangkas se acerca. Comandam-na dois dos rapazes que tínhamos visto jogarem snooker.
Convidam-nos a entrarmos na embarcação “Ray Joshua” já imobilizada com a proa sobre o areal.
Num ápice, instalamo-nos. Zarpamos para a Baía Santa Ana e, logo, para sul, para a de Igang.

Timoneiro de uma bangka junto a um rochedo nas imediações da ilha Ave Maria
Quanto mais descemos na costa, mais alvos nos parecem os areais, verdadeiras bases coralíferas que geram aquários naturais dignos de aturadas deambulações de snorkeling.
Entramos em várias enseadas que revelam coqueirais camuflados na selva.
Algumas, albergam línguas de areia e fundos de mar rasos.

Timoneiro na proa da bangka “Ray Joshua 5”
Obrigam o timoneiro da bangka a desligar o motor, a manobrá-la à laia de gondoleiro.
De cada vez que imobiliza a “Ray Joshua” compensamos os mergulhos perdidos em Alubihod.
Nova Escala para Banhos, numa Língua de Areia da Ilha Ave Maria
Descontraímos a boiar e a cirandar entre os cardumes de peixes tropicais exuberantes.

Cabanas de um resort na costa ocidental da ilha de Guimaras.
Apontados a norte, constatamos dois outros resorts, um deles, com cabanas empoleiradas no cimo de falésias rochosas, subsumidas na vegetação.
De frente para o de Lusay Beach, seduz-nos nova língua de areia que o descer da maré deixara a descoberto, a contrastar com uma pequena selva insular acima.

Língua de areia da ilha Ave Maria, ao largo da costa oeste de Guimaras
Detemo-nos por ali. Às tantas, com a companhia dos passageiros de outra bangka, a “M/Ba Samantha”.
De molho na água cálida, à conversa com os recém-chegados, apuramos que estávamos perante o ilhéu Ave Maria.
É um dos poucos na zona ainda a salvo de construções, excepto, do lado oposto, mais rochoso e desprovido de areal, de uma escadaria que conduzia a um pequeno santuário da Virgem Maria.
Modesta, mas providencial, a obra provava-se mais uma de tantas expressões da fé católica que os espanhóis legaram às Filipinas, consideradas a mais cristã das nações asiáticas.

Timoneiro de guia fotografa um grupo de banhistas visitantes de Guimaras e ilha Ave Maria
Do nada, nuvens densas e escuras, parte das que a previsão meteorológica tinha augurado, tomam o céu limpo.
Estávamos conscientes da instabilidade e dos danos que o último dos furacões causava no norte do país.
Carecíamos da informação precisa da sua actual trajectória.
Sem vontade de sermos apanhados numa tempestade, a bordo da pequena “Ray Joshua”, antecipamos o regresso ao Raymen Resort e, pouco depois, a Jordan, onde nos esperava outra bangka que fazia de ferry.
Completamos a travessia de volta a Iloilo sem sobressaltos.

Remadores a bordo de uma pequena bangka
Por pouco.
Nesse fim de tarde, um temporal agitado por vento forte e chuva densa, castigou, por fim, as ilhas de Visayas Ocidental.
Como ir
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